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Saiba como se proteger da COVID-19 no inverno

Portrait of young woman putting on a protective mask

Estamos no final do outono em todo o Brasil e as regiões Sul e Sudeste já começam a experimentar temperaturas mais baixas e tempo mais seco. O inverno é uma época conhecida pelo aumento nos casos de infecções das vias aéreas superiores (IVAS) e um período de alerta para pacientes que já fazem tratamentos para sinusite, rinite, bronquite, entre outras comorbidades.

Este ano em particular, temos um vírus novo em circulação e de acordo com o Ministério da Saúde ainda não conseguimos saber com exatidão se já passamos pelo pico da pandemia.

Conversamos com a Dra. Marcia Okawara, médica otorrinolaringologista do dr.consulta, para saber mais sobre os cuidados necessários nesta época do ano e o que muda com o vírus da Covid-19 em circulação. Apesar da grande procura por consultas com otorrinolaringologistas, tanto nos centros médicos como por telemedicina, a Dra. Okawara ressalta que devido às medidas de isolamento social e reforço da higiene pessoal, já é possível observar uma diminuição nos casos de infecções de vias aéreas superiores neste ano, em comparação com os anos anteriores.

Ao mesmo tempo, a especialidade tem sido uma das mais procuradas por pacientes com sintomas de gripe e por consequência, uma das que mais diagnostica a Covid-19. A Dra. Okawara alerta que seria importante que ao sinal de qualquer sintoma gripal, o paciente buscasse um médico para realizar o diagnóstico correto e receber todas as orientações necessárias a fim de confirmar ou afastar a Covid-19 e assim, evitar a propagação da doença.

Como será o inverno este ano junto com o coronavírus para pacientes que possuem alergias e problemas respiratórios? Os cuidados devem ser diferentes do que já estávamos habituados?

Tanto para pacientes alérgicos e com problemas respiratórios quanto para o resto da população, o período compreendido entre o início do outono ao início da primavera é o período de maior incidência de infecções das vias aéreas superiores (IVAS). Qualquer gripe ou resfriado pode evoluir para uma sinusite bacteriana e a maior parte das sinusites bacterianas vêm precedidas por uma infecção viral. O resfriado comum ou uma gripe podem ainda evoluir para faringite, amigdalite, laringite, otite e até mesmo para uma pneumonia. Não é à toa que essa é a época do ano em que nós, otorrinolaringologistas somos mais procurados.

Coronavírus é uma família de vírus respiratórios relativamente comum, sendo causa frequente de resfriado comum. Existem sete coronavírus humanos identificados, e dentre eles está o novo coronavírus, o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19. Assim sendo, o novo coronavírus, assim como as diversas cepas do vírus Influenza ocasiona uma infecção da via aérea superior, que, na maioria das vezes, é autolimitada, podendo evoluir com complicações, a depender da idade do paciente, estado imunológico e presença de comorbidades. Desse modo, os cuidados permanecem os mesmos, devendo ser redobrados no inverno, que é justamente o período de maior contágio.

No momento, quais são as queixas mais comuns nas consultas?

Acredito que estejamos próximos do auge da pandemia em nosso país. Atendo tanto presencialmente quanto na telemedicina desde a chegada do novo coronavírus no Brasil, e observo o crescente aumento de casos. O otorrinolaringologista tem sido, muitas vezes, o primeiro médico que o paciente procura quando está em vigência de uma síndrome gripal. A grande maioria dos pacientes já chega ao consultório certos de que estão com uma “gripe comum”, como a chamam ou com uma sinusite, afirmando estarem convictos de que não estão contaminados pelo novo coronavírus. Não há como ter essa certeza, infelizmente. Noto que um fator que ainda provoca muitas dúvidas é a ausência de alguns sintomas, como a febre e a tosse. Explico que nem todos os pacientes com a Covid-19 possuem febre nem tosse. Há inclusive um número crescente de pacientes que apresentam, por exemplo, apenas a perda de olfato e paladar durante toda a infecção. Acredito que essa confusão contribua substancialmente para o aumento do número de casos, pois uma vez que o paciente não suspeita que possa estar contaminado, ele mantém sua rotina normal, tendo contato com colegas de trabalho e familiares. Qualquer infecção de via aérea superior pode evoluir para uma sinusite, por exemplo e há casos de pacientes que estão infectados pelo novo coronavírus e apresentam, concomitantemente, uma sinusite. Porém, a confusão sobre o que seria uma rinite, sinusite e gripe retarda o diagnóstico precoce e contribui para gerar a disseminação do vírus. Meu apelo seria justamente para todos estarem alerta de que qualquer sintoma gripal deve ser considerado um possível sintoma da Covid-19 e que somente um
médico poderá fazer o correto diagnóstico.

Além disso, tenho notado alguns casos de rinite e crises de asma relacionados ao uso de misturas de alguns produtos de limpeza. Sabemos que todos querem reforçar ainda mais a limpeza do ambiente neste momento, mas algumas combinações podem provocar efeitos nocivos ao nosso organismo, como a combinação de alvejantes e a amônia, que provoca a liberação de um gás irritante para nossa via aérea. Neste caso, menos é mais! O álcool a 70%, solução de hipoclorito de sódio e a boa e velha dupla de água e sabão bastam na higiene doméstica.

Ouvimos falar frequentemente que a lavagem nasal com solução salina é recomendada para pacientes com rinite e sinusite. Qual o seu benefício em relação ao novo coronavírus?

Costumamos recomendar a lavagem nasal durante qualquer infecção de via aérea superior com o intuito de promover o alívio da obstrução nasal e de prevenir complicações, como a sinusite aguda. Muitos nos questionam sobre a sua realização durante a infecção pela Covid-19, e o que sabemos é que até o momento, não existem evidências científicas que comprovem seu benefício ou malefício em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. No entanto, houve divulgação de que a lavagem nasal poderia facilitar a entrada do novo coronavírus nos pulmões, apesar de não haver comprovação científica até o presente momento que embase essa suspeita, de modo que estamos avaliando sua indicação individualmente, caso-a-caso. Além disso, como na maior parte das residências o banheiro costuma ser compartilhado, a lavagem nasal poderia disseminar o vírus no ambiente e dessa maneira, seria necessária uma correta higienização da pia com álcool a 70%, solução de hipoclorito de sódio ou outro desinfetante indicado para este fim para evitar a contaminação de familiares a cada lavagem nasal realizada.

Quem já teve Covid-19 pode vir a ter problemas respiratórios que antes não tinha?

Ainda não há evidências suficientes que possam confirmar isto, mas acredita-se que a infecção pela Covid-19 possa acarretar algumas sequelas pulmonares, a exemplo da fibrose pulmonar em pacientes que evoluíram com complicações. No entanto, a grande maioria dos pacientes que apresentem um quadro leve evoluiu para a completa cura sem maiores repercussões.

Quais os cuidados recomendados com as crianças e os idosos?

Os cuidados devem ser os mesmos para todas as faixas etárias, desde crianças até idosos. Porém, idosos e pessoas com algumas comorbidades possuem um risco maior de desenvolver complicações. Temos que ter em mente que, independente da idade e das doenças crônicas apresentadas, qualquer um de nós está vulnerável neste momento e não há como ter certeza de que um jovem saudável evoluirá bem e um idoso hipertenso evoluirá mal. É complicado falar em porcentagens e probabilidades quando aquele jovem é nosso irmão ou aquele idoso é nosso pai. Se todos mantiverem o isolamento recomendado, o uso da máscara e as medidas de higiene, certamente o benefício será coletivo.

O tempo seco pode prejudicar os pacientes com rinite e sinusite?

Sim, o tempo frio e seco atua como desencadeante da rinite por irritantes e provoca piora da obstrução nasal, coriza e espirros, além de tosse seca, dor de cabeça, ardência no nariz, olhos e garganta e pode até ocasionar sangramento nasal. Além disso, a baixa umidade do ar afeta mais as crianças e os idosos, além dos portadores de asma. Para amenizar os sintomas indesejados relacionados ao tempo seco, recomendo manter a casa limpa e arejada e muita hidratação – beber pelo menos 2 litros e meio de água por dia. Quando estiverem liberadas as atividades físicas ao ar livre, evitar o período do final da manhã até o início da tarde, que é o momento em que a umidade relativa do ar é mais baixa.

O uso de umidificadores de ar é indicado nos dias mais secos?

Quando a umidade relativa do ar estiver abaixo de 60%, eles podem ser utilizados, mas em dias mais úmidos devem ser evitados, uma vez que o excesso de umidade no ar pode favorecer a proliferação de fungos no ambiente doméstico.

Quais os principais cuidados que devemos ter com a chegada da nova estação? Como aumentar a imunidade para estarmos mais protegidos?

Neste momento tão peculiar que vivemos, é muito importante manter uma boa alimentação e a prática de atividades físicas (dentro de casa), de modo a mantermos uma imunidade adequada. Tenho atendido um número crescente de pacientes que estão adotando receitas caseiras (chás e gargarejos com frutas cítricas e temperos utilizados na cozinha) no intuito de aumentarem a imunidade. Além da controversa eficácia de tais medidas, novos problemas de saúde podem ser acarretados por esses novos hábitos, como o refluxo laringo-faríngeo, que ocorre quando o conteúdo ácido do estômago sobe, através do esôfago, para a garganta. Sempre digo aos meus pacientes que o mundo está cheio de “meio médicos”, mas para não cair nessas ciladas, somente consultando um “médico inteiro”.

É importante tomar a vacina da gripe neste momento? Qual a sua relação com a Covid-19?

Sim, ela é uma excelente recomendação neste momento. Essa vacina nos protege contra o vírus Influenza, é atualizada anualmente e os efeitos da sua proteção se iniciam aproximadamente 2 semanas após a sua aplicação, estendendo-se por 1 ano. A razão para tomarmos a vacina contra a gripe no outono é justamente porque o maior número de anticorpos produzidos ocorre entre 1 e 2 meses após a vacinação, ou seja, teremos o maior nível de proteção justamente nos meses de inverno, quando temos a maior incidência de infecções de vias aéreas superiores. Somado a isso o fato de estarmos em meio a uma pandemia por um vírus que ocasiona justamente os mesmos sintomas da gripe comum, a vacinação ajuda a facilitar o diagnóstico do novo coronavírus. Isso acontece da seguinte maneira: imagine que um paciente esteja com sintomas gripais mas já recebeu a vacina da gripe. Muito provavelmente este paciente já encontra-se protegido contra o vírus Influenza, o que significa que maiores são as chances de estar contaminado pelo novo coronavírus. Não podemos nos esquecer que a gripe ocasionada pelo vírus Influenza também pode ocasionar complicações semelhantes às da Covid- 19, principalmente nos grupos de risco, de modo que estarmos protegidos contra o vírus Influenza acarretará menos internações e, consequentemente, mais leitos teremos disponíveis para pacientes com a Covid-19.

Pacientes com problemas respiratórios devem adotar as máscaras também para evitar surtos?

O uso de máscaras sempre foi muito comum nos países asiáticos, e acredito que se torne uma tendência crescente nos demais países. Mesmo após o término da pandemia pela Covid-19, é importante que qualquer pessoa com gripe ou resfriado use a máscara para diminuir a geração de gotículas respiratórias no meio ambiente, preservando as outras pessoas de uma possível contaminação. Conforme sempre falo, devemos usar a máscara primeiro para preservar os outros, de modo que se todos a usarmos, todos estaremos juntamente protegidos.

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