Saiba mais sobre a síndrome de Sjogren, uma forma de alteração autoimune
A síndrome de Sjogren (antes chamada de doença de Sjogren) é uma condição autoimune associada a alterações em glândulas responsáveis pela produção de lágrimas e de saliva. Com isso, as mucosas dos olhos e da boca podem ficar extremamente ressecadas, gerando os sintomas característicos dessa complicação.
Além disso, a atividade de outras estruturas responsáveis pela umidade e hidratação do corpo também pode ser afetada. Desse modo, o ressecamento pode atingir a pele, as vias áreas e as regiões íntimas (fazendo com que pessoas do sexo feminino se queixem de secura vaginal, por exemplo).
O que se sabe sobre as causas da síndrome de Sjogren
O nome dessa condição autoimune faz referência ao médico sueco Henrik Sjogren, que durante os anos 1990 descreveu casos de pessoas com artrite reumatoide que apresentavam queixa de secura na boca e nos olhos.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, estima-se que a síndrome de Sjogren atinja um a cada 2 mil brasileiros. Embora pessoas de todas as idades possam manifestar o quadro, ele tende a ser mais frequente na faixa etária que vai dos 40 aos 60 anos.
Na prática, ainda não há plena certeza sobre o que provoca tal alteração. Desconfia-se, em parte, que algumas pessoas têm predisposição genética para a doença. Diante disso, vários fatores, como infecções virais, oscilações hormonais ou mesmo flutuações emocionais podem desencadear a condição.
Seja como for, há evidências que sustentam que indivíduos com outras doenças reumáticas autoimunes previamente diagnosticadas têm mais chance de apresentar a síndrome de Sjogren. Entre exemplos disso estão a já mencionada artrite reumatoide e o lúpus eritematoso sistêmico. Resumidamente, a manifestação da condição pode se dar de forma primária ou secundária.
Síndrome de Sjogren primária (ou isolada)
Em tais circunstâncias, a doença aparece sem que antes tenha sido diagnosticada qualquer outra alteração autoimune.
Síndrome de Sjogren secundária (ou associada)
Já nesses casos, as queixas características surgem quase sempre em conjunto com outras condições autoimunes/reumatológicas. Atualmente, utiliza-se o termo “associada” em vez de “secundária” para não subestimar o impacto dessa queixa sobre o quadro.
Doenças autoimunes
Uma doença autoimune é aquela em que há um desarranjo das defesas naturais do corpo. Em organismos saudáveis as células do sistema imunológico estão sempre prontas para enfrentar ameaças externas (como vírus, bactérias, etc.).
No entanto, uma série de fatores pode desorganizar a atuação desses mecanismos. Assim, eles passam a atacar partes do próprio corpo sem necessidade como se eles fossem uma fonte de perigo, provocando diversos sinais e sintomas.
Na maioria dos casos, o especialista indicado para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dessas condições é o reumatologista.
Toda secura em olhos e boca é causada pela síndrome de Sjogren?
A sensação constante de olhos e mucosa da boca secos são os sintomas mais característicos dessa disfunção autoimune. No entanto, vale observar que essas alterações são relativamente comuns e podem ser causadas por várias condições. Entre outras possíveis explicações para isso estão:
- utilização de determinados medicamentos;
- tabagismo e alcoolismo;
- infecções diversas;
- diabetes;
- hipotiroidismo.
Com isso, é preciso sempre procurar um médico capaz de fazer uma investigação detalhada para confirmar as explicações para esses incômodos, principalmente se houver histórico de queixas autoimunes. A suspeita da síndrome de Sjogren tende a surgir quando há relatos de:
- secura na boca, a ponto de ser difícil falar, mastigar e engolir alimentos secos (como pães e biscoitos);
- ressecamento ocular, que causa vermelhidão e a sensação de areia nos olhos, acompanhada de dor ou queimação;
- redução na umidade da pele, das vias aéreas (gerando tosse seca) e dos órgãos genitais (provocando dor durante relações sexuais ou na hora de urinar);
- cansaço constante;
- dores nas articulações;
- comprometimento de órgãos internos e do sistema nervoso, gerando manifestações cujos sintomas nem sempre são associadas à síndrome de Sjogren.
Além da avaliação clínica, o médico pode solicitar alguns exames para orientar o diagnóstico. Diante da possibilidade dessa alteração, o principal recurso utilizado é uma biópsia das glândulas salivares, que removem uma pequena parte desse tecido da mucosa da boca para análise laboratorial.
Nesse meio tempo, a pessoa pode ainda ser encaminhado para um oftalmologista e um dentista. Esses profissionais podem avaliar e orientar medidas para reduzir os incômodos causados pela secura dos olhos e da boca, respectivamente.
Os impactos sobre a qualidade de vida dessa condição de saúde
Não é raro que a síndrome de Sjogren demore vários anos para ser diagnosticada ou mesmo passe despercebida. Tal atraso pode gerar vários prejuízos sobre o bem-estar de quem é afetado por ela, por longos períodos.
Além disso, há a suspeita que a falta do controle da condição eleva o risco de algumas complicações. A principal delas é o surgimento de linfomas malignos, um tipo de tumor que atinge determinadas células do sistema imune. Em casos raros, pode haver ainda perda da visão.
Diante disso, é importante que a pessoa diagnosticada seja orientado e mantenha o tratamento adequado. A abordagem necessária para controlar e aliviar os sintomas passam por duas frentes.
De um lado, o uso de medicamentos capazes de controlar a resposta imune inadequada, o que é relevante principalmente nos casos mais graves. De outro, uma série de medidas capazes de minimizar as consequências do ressecamento dos olhos e da boca.
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Redução na secura da boca
As medidas abaixo são relevantes para garantir uma salivação adequada. Esse processo mantém a umidade oral necessária para a fala, a mastigação e a deglutição. Além disso, o líquido na boca ajuda a proteger dentes e gengivas da ação de microrganismos. Portanto, o ideal é:
- beber água com frequência ainda maior;
- escovar bem os dentes e utilizar sempre o fio dental, já que além de limpar a boca esse cuidado pode estimular a produção de saliva;
- manter o acompanhamento odontológico adequado;
- evitar enxaguantes bucais com álcool ou produtos que possam aumentar a secura da boca (na dúvida, fale com seu dentista);
- reduzir o consumo de bebidas gasosas, com açúcar ou álcool;
- deixar de fumar;
- hidratar os lábios com produtos apropriados, de preferência com proteção solar.
Redução no ressecamento dos olhos
As lágrimas têm como funções revestir e lubrificar a estrutura dos olhos. Com isso, a fina camada formada por esse líquido ajuda a manter os globos oculares limpos e proteger a visão de uma série de ameaças, incluindo possíveis microrganismos.
Entre as medidas básicas para minimizar o ressecamento dessa região estão:
- manter a umidade adequada no ambiente (com o uso de umidificadores, se for necessário);
- piscar com frequência, em especial ao se concentrar em uma atividade específica;
- visitar o médico oftalmologista regularmente;
- alterar o posicionamento de telas, deixando-as mais baixas que o comum para permitir que os olhos fiquem semicerrados (ou seja, mais ou menos fechados);
- utilizar óculos que reduzem a evaporação das lágrimas (conhecidos como “câmaras úmidas”);
- aplicar lágrimas artificiais, conforme orientação de um oftalmologista;
- não utilizar medicamentos que possam agravar a secura;
- fazer a higiene cuidadosa da margem das pálpebras.
De todo modo, sinais e sintomas adicionais da síndrome de Sjogren podem depender de atenção específica, inclusive de outros especialistas que não o reumatologista. Por isso, ainda que não tenha uma cura, o acompanhamento apropriado e a manutenção dos cuidados necessários pode reverter a gravidade do quadro e promover uma boa qualidade de vida.
Fontes: