Em meados de agosto de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a Mpox, enfermidade anteriormente conhecida como varíola dos macacos, é uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ou ESPII).
Na prática, essa medida visa intensificar o monitoramento de uma possível propagação mais veloz da condição. Tal alerta foi emitido pela última vez em razão da COVID-19, antes que a disseminação do vírus do SARS-CoV-2 provocasse a pandemia. Entretanto, isso não significa que seja correto comparar as duas situações.
Por isso, dedique um momento para compreender os aspectos fundamentais do que está ocorrendo e, principalmente, adotar as precauções adequadas.
Uma retrospectiva sobre a Mpox
O vírus (denominado Orthopoxvirus monkeypox ou simplesmente Monkeypox virus) causador da até então chamada varíola dos macacos não é propriamente recente. Ele foi identificado em 1958, entre colônias de primatas mantidos em cativeiro.
Apesar disso, a origem precisa do microrganismo pode não estar relacionada a esses animais. Suspeita-se que roedores e outros mamíferos selvagens também possam hospedá-lo.
De qualquer forma, os casos permaneceram restritos a certas regiões da África por décadas. Nesse meio tempo, presumia-se que o agente viral só passava de animal para pessoa. Ou seja, acreditava-se que a transmissão entre seres humanos era algo incomum.
Contudo, um surto (isto é, quando há aumento repentino de pessoas atingidas) alcançou proporções mais amplas em 2022. Anteriormente limitados, registros de infectados começaram a aparecer em regiões onde isso jamais havia ocorrido.
No total, estima-se que a Mpox tenha acometido moradores de 122 países, totalizando quase 100 mil casos notificados na época. Entretanto, a proliferação foi contida alguns meses depois, para então ressurgir com vigor em meados de 2024.
Suspeita-se que essa nova onda, aparentemente mais intensa, esteja relacionada a um novo subtipo do patógeno mais eficiente em se espalhar, em parte justificando a declaração de emergência.
No Brasil, conforme o Ministério da Saúde aponta, em 2024 foram registrados até o final de agosto pouco mais de 700 casos confirmados ou prováveis da infecção. No surto anterior, em 2022, haviam sido mais de 10 mil notificações.
A mudança de nome da infecção
A descoberta do vírus nos anos 1950 resultou em uma denominação que refletia os costumes daquela época. No entanto, o uso do termo “varíola dos macacos” pode gerar estigma entre determinadas populações e em relação aos animais.
Assim sendo, foi adotado o termo Mpox (uma contração de “monkey smallpox”, palavras em inglês para “macaco” e “varíola”, respectivamente).
Além disso, é importante ressaltar que a Mpox difere da outra varíola, conhecida amplamente em todo o planeta. Embora relativamente semelhantes, a forma “convencional” ficou registrada na história da humanidade pelo seu potencial letal (que persistiu por séculos) e por ter sido a primeira doença erradicada com a vacinação.
Você sabia que o infectologista é o especialista no cuidado de quadros desencadeados por vírus, bactérias, fungos e outros parasitas? Além de tratar e diagnosticar essas condições, ele pode indicar as melhores estratégias de prevenção.
Formas de transmissão
A Mpox é transmitida por dois mecanismos:
- contato direto de pessoa para pessoa, incluindo proximidade pele a pele ou ainda com secreções (incluindo as de relações íntimas), especialmente quando já há manifestação dos sintomas;
- exposição prolongada a gotículas de saliva e outros fluidos respiratórios de uma pessoa infectada;
- compartilhamento de objetos contaminados, como toalhas, roupas de cama e utensílios de cozinha ou higiene pessoal.
É possível que alguém infectado pelo vírus possa transmiti-lo antes de manifestar qualquer queixa. No entanto, isso é mais raro. Dessa forma, a probabilidade de propagação tende a aumentar a partir do momento em que os sintomas aparecem.
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Principais sinais e sintomas
O tempo médio de incubação da Mpox varia entre 3 e 16 dias. Mas, em alguns episódios, esse intervalo pode alcançar 21 dias. Esse período corresponde ao intervalo entre o contato inicial e o surgimento dos primeiros sinais da infecção.
As alterações mais perceptíveis geralmente envolvem:
- bolhas que posteriormente se rompem e formam lesões na pele;
- linfadenopatia (inchaço nos linfonodos, estruturas do sistema linfático, causando o que é chamado de íngua);
- dor de cabeça e no corpo;
- febre, inclusive com calafrios;
- fadiga e sensação de fraqueza.
O primeiro sintoma a se manifestar geralmente é a febre. Aproximadamente três dias depois, as lesões começam a se formar, principalmente nas mãos, no rosto e nos pés. Boca, olhos e genitais também podem ser afetados.
O número de feridas varia de pessoa para pessoa. Após um período, elas ressecam e formam uma crosta, que tende a cair depois de alguns dias. O indivíduo só deixa de transmitir o vírus quando a cicatrização se completa, o que pode levar algumas semanas.
O que fazer na suspeita da Mpox
Quem apresenta sintomas sugestivos de enfermidade ou manteve proximidade física com alguém diagnosticado deve buscar assistência médica imediatamente.
Enquanto isso, recomenda-se manter isolamento (permanecendo em um quarto individual, se possível) e evitar interações com outras pessoas, inclusive através do compartilhamento de objetos. Higienizar todos os utensílios utilizados e lavar as mãos frequentemente também é importante.
O profissional responsável pelo atendimento solicita um exame laboratorial para confirmar o diagnóstico. Para isso, coleta-se uma amostra das secreções ou das crostas das lesões. Com esse material, realiza-se uma análise que busca a presença do vírus no organismo.
Tratamentos e abordagens disponíveis para esse quadro
Assim como ocorre com outras infecções virais, não há medicamento específico capaz de eliminar o microrganismo do corpo. Portanto, a recuperação geralmente é acompanhada apenas de medidas de suporte, visando aliviar o desconforto.
Nesse cenário, o responsável pelo diagnóstico pode orientar sobre as medidas de quarentena, higiene com os materiais utilizados e cuidados com as lesões.
A partir disso, podem ser necessárias até quatro semanas para alcançar uma recuperação completa. Em geral, a maioria dos quadros tem evolução favorável e apresenta intensidade que varia entre leve e moderada.
São pouco frequentes as situações que se agravam a ponto de oferecer risco de morte. No entanto, ele pode ser maior em lactentes, crianças e pessoas imunossuprimidas (seja por algum tratamento médico, seja por outras condições de saúde), que devem ser observados mais atentamente diante dessa infecção.
Recomendações essenciais para reforçar a prevenção da Mpox
A precaução para evitar o contato com pessoas infectadas é a principal medida para impedir que a infecção continue a se espalhar.
Se por um lado, pessoas diagnosticadas com Mpox devem seguir rigorosamente as orientações de isolamento, por outro, para os não infectados é fundamental redobrar hábitos como:
- higienizar as mãos e desinfectar as superfícies e utensílios potencialmente contaminados com sabão e álcool em gel;
- utilizar luvas, óculos e máscaras (algo indispensável para profissionais de saúde e cuidadores) sempre que for preciso manter uma interação com alguém com suspeita de infecção, e não compartilhar objetos;
- descartar adequadamente os resíduos que tocaram fluidos das lesões (como curativos, por exemplo).
Existem vacinas contra a Mpox, mas sua disponibilidade ainda é bastante restrita, devido a diversos fatores. Dessa forma, seu uso se concentra em:
- pessoas vivendo com HIV/Aids que apresentam contagem de linfócitos T CD4 abaixo de 200 nos seis meses anteriores, um sinal de comprometimento do sistema imune;
- profissionais de saúde que trabalham com o vírus da Mpox;
- de forma profilática (ou seja, para reduzir a chance de que a enfermidade se desenvolva) em indivíduos com registro de proximidade com casos confirmados, mediante avaliação.
Independentemente de como o cenário evolua, outra recomendação básica envolve manter a tranquilidade. É natural que surja apreensão diante de algo “novo”, mas evitar o nervosismo é importante para se proteger de forma eficaz com o auxílio permanente de informações de qualidade.
Fontes: