O mundo fora do útero: entendendo a exterogestação
A exterogestação é um termo criado por Ashley Montagu, antropólogo inglês, no século passado, que se refere a gravidez fora do útero. Segundo Ashley, o período de três meses após o nascimento é responsável por completar o desenvolvimento do bebê.
Dessa forma, o nascimento não constitui mais o início da vida, mas sim uma série de mudanças funcionais e complexas fora do útero materno. Assim, que servem para preparar o recém-nascido para a passagem entre a gestação uterina, para a gestação continuada fora do útero.
Pode parecer um pouco estranho à primeira vista, mas esse conceito e a teoria tem amplo respaldo científico. Então, por se tratar de um termo de pouca familiaridade para a maioria das pessoas, procuramos trazer o máximo de informações, orientações e dicas para que, ao final da leitura, todos entendam o que é a exterogestação.
Também para os papais de primeira viagem: aproveitem para entender como facilitar essa transição para os seus bebês no período da exterogestação.
Ficou curioso para aprender mais sobre esse conceito tão interessante? Então, acompanhe nosso conteúdo, compreenda esse termo e tire todas as suas dúvidas sobre exterogestação. Vamos lá?
Gestação fora do útero?
Segundo Ashley Montagu e suas pesquisas, os humanos estão entre as espécies cujos filhos estão menos desenvolvidos ao nascer. Por isso, são mais dependentes dos cuidados materno e paterno do que qualquer outro filhote de mamíferos.
Isso porque a nossa espécie, o Homo sapiens, adquiriu em seu desenvolvimento um cérebro proporcionalmente grande, então é necessário que o parto ocorra enquanto ainda há espaço para a passagem da cabeça do bebê, mesmo que ele ainda esteja biologicamente imaturo para nascer.
Podemos dizer, então, que a teoria da exterogestação está alinhada com o desenvolvimento da espécie humana.
Os bebês irão se desenvolver como precisam, mas a finalização desse processo acontecerá depois do nascimento. Segundo a teoria da exterogestação, todas essas modificações decorrem nos primeiros 3 meses após o nascimento.
Este é um período super importante para o desenvolvimento neurológico dos bebês, além de seus sistemas circulatório, respiratório, endócrino e digestivo. Assim, nesse período, a relação estreita e contínua com a mãe também confere ao bebê impactos profundos no desenvolvimento infantil, nos aspectos físicos, emocionais e psicológicos.
Por isso, especialistas orientam que a exterogestação seja encarada como um quarto trimestre da gestação. Afinal, nessa fase, mãe e bebê estão passando por um momento de adaptação.
Então, a criança tem que sinalizar tudo o que sente e precisa através do choro, e a mãe, por sua vez, precisa decodificar essas necessidades através do que o bebê lhe informa.
Sendo assim, a melhor forma de o bebê se adaptar é sentindo a mesma segurança que tinha dentro do útero. Dessa forma, a presença materna que lhe dá o colo, aconchego, toque, o seio materno, o contato pele a pele dos dois, possibilita e fortalece o vínculo entre eles, dando a segurança que o bebê necessita nessa nova fase.
No reino animal, os cangurus são um bom exemplo de exterogestação. O bebê canguru nasce muito pequeno (do tamanho de uma jujuba!) depois de uma gestação muito rápida. Daí migra para o marsúpio, uma “bolsa” externa que contém os mamilos.
Ali, o bebê canguru fica mamando e completando seu desenvolvimento por aproximadamente de 8 a 11 meses. Quando o bebê canguru não cabe mais ali, ele precisa sair e se tornar independente.
Características desse período
O responsável por popularizar a teoria da exterogestação foi o pediatra norte-americano Harvey Karp, que denominou esse período como “quarto trimestre”.
Assim, ele afirma que o bebê precisa de zelo redobrado para fazer essa transição entre a saída do útero e o mundo aqui de fora. Por isso, algumas tentativas de recriar o ambiente do útero são recomendadas.
Imagina só: antes, o bebê vivia dentro do útero, em um ambiente quente, com água, escuro e seguro. A alimentação era contínua e acontecia através do cordão umbilical. Ele nunca sentia sede ou fome, se mantinha aquecido e limpo e dormia sem luzes ou barulhos altos.
Nesse sentido, a posição fetal era acolhida por um ambiente apertado, mas extremamente confortável em textura e temperatura. Além do mais, o contato com a mãe era integral.
Agora, fora do útero materno é tudo diferente. Ele precisa aprender atividades básicas para sobreviver: respirar, alimentar-se, fazer a digestão, além de lidar com todos os estímulos externos até dormir.
O bebê depende, física e emocionalmente, da sua mãe ou da sua pessoa cuidadora para que as suas necessidades básicas sejam atendidas.
Sendo assim, no período de exterogestação o bebê entende que ele e a mãe são uma só pessoa. Por isso, é necessário estar sempre com o bebê e passar-lhe tranquilidade para que ele se sinta confortável e seguro. Ele com certeza sentirá falta do movimento natural do corpo da mãe que o embalava e dos sons que povoavam o útero.
Sabendo disso, é possível recriar algumas condições, na medida certa, que podem fazer da adaptação do bebê ao mundo externo um período mais tranquilo para ele e toda a família.
Para as mamães, é preciso lembrar que este período também é fundamental: o puerpério ocorre simultaneamente à exterogestação. Por isso, facilitar essa adaptação pode ser a melhor opção para todos os membros da família.
8 dicas para lidar com a exterogestação
Na fase da exterogestação, que são os três primeiros meses após o nascimento do bebê, tudo pode parecer bem mais difícil. Para isso, entender bem as reais necessidades do bebê e da mãe são essenciais para que essa fase seja bem tranquila e feliz para os dois, e para os demais envolvidos.
Dessa forma, preparamos algumas dicas que ajudarão a lidar melhor com a fase da exterogestação. Vamos a elas? Acompanhe!
1. Atente-se à gravidade
Dentro do útero não há gravidade. Sendo assim, o bebê flutua e não percebe todo o peso dele. Já fora do útero, onde a gravidade está presente, o bebê pode chorar e ficar mais irritado quando colocado de costas.
Para evitar esse incômodo, procure segurá-lo, no colo, de lado ou de bruços.
Mas atenção! A OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomenda que bebês sejam colocados de lado ou de bruços para dormir, por causa do risco de morte súbita, e sim de barriga para cima.
Essa é uma prática que deve ser feita apenas quando o bebê estiver no colo sob supervisão.
2. Alimentação em livre demanda e sucção não nutritiva
Quando estava no útero, geralmente, o bebê ficava com as mãos perto do rosto sugando seu próprio dedo e a alimentação era em livre demanda através do cordão umbilical.
Então, seguir com esse ritmo, amamentando o bebê sempre que ele quiser é uma prática positiva não só para a nutrição, mas também para lhe trazer conforto, já que estará em contato com o corpo da mãe.
É normal que, muitas vezes, o bebê só fique sugando o peito da mãe, sem estar necessariamente se alimentando. Isso não faz mal nenhum, ele está apenas replicando um comportamento que já existia dentro do útero. Com essa atitude ele vai estar confortável, criando vínculo e aconchego no ambiente externo.
3. A importância do toque
O toque é muito importante para o bebê, é um dos primeiros sentidos desenvolvidos por ele. Estimule esse sentido o máximo possível com beijinhos, carinhos, abraços, massagens e aconchego.
Por meio do toque constante, o bebê sente o coração dos seus pais batendo e se mantém aquecido, seguro e tranquilo.
4. Dê colo
É comum dizer que o colo estraga o bebê. Muito pelo contrário!
Durante a exterogestação, o colo ajuda a melhorar os desconfortos naturais desse período. Como já falamos, na gestação, o bebê dentro da barriga da mãe sentia e acompanhava os seus movimentos naturais. Portanto, é recomendado que a mãe se sente em uma cadeira de balanço, ou caminhe com o bebê no colo, ou no sling.
O sling para bebês é um carregador de pano, ou seja, um pedaço de tecido utilizado para amarrar o bebê junto ao corpo de um adulto. Ele permite posicionar o bebê da forma mais confortável possível e respeita o amadurecimento lento e gradual das estruturas ósseas e musculares da criança.
5. Imite os sons do útero
Dentro do útero, o bebê também ouvia os barulhos do corpo da mãe e em determinada fase, podia até mesmo ouvir alguns sons exteriores. Por isso, quando precisar acalmar o bebê o “shhhhh” que imita um chiado é excelente para isso.
A voz da mãe, por si só, acalma o bebê, mas você também pode cantar canções de ninar ou procurar uma playlist que agrade seu bebê. Também existem aplicativos que imitam os sons do útero e eles são ótimos para o período de exterogestação.
6. Choro é comunicação
Sempre atenda seu bebê quando ele chorar, neste período. Acolha-o, pois, nessa fase da exterogestação, chorar sempre significa algo. Afinal, o bebê não sabe ”manipular” e nem sequer faz manha.
Então, o choro representa uma necessidade, seja ela de alimento, afeto ou aconchego. As chamadas cólicas desse período, muitas vezes, podem estar associadas a desconfortos gerais. Sempre que o bebê chorar dedique-se a ele com atenção e aconchego, levando de encontro ao seu peito.
7. Embrulhe o seu bebê
Quando o bebê está no útero ele está, o tempo todo, apertadinho, sob toque, como se estivesse embrulhadinho. Quando não for possível estar com seu bebê no colo, procure envolvê-lo numa manta numa espécie de casulinho. Ele, com certeza, vai se sentir acolhido e ficará mais calmo.
Mas atenção: Certifique-se de que a manta esteja bem presa. Isso porque, panos soltos perto de bebês não são recomendados. Também é importante desfazer a amarração periodicamente para que ele possa se espreguiçar e entrar em contato com seu próprio corpo.
8. Hora do banho e sono
Faça regularmente banho de balde no seu bebê. Essa técnica de banho recria o ambiente do útero e é um ótimo calmante. Aposte também em banhos sensoriais, com chás e ervas terapêuticas, como a camomila.
Assim, bolsinhas quentes também são extremamente reconfortantes e inibem os incômodos da vida fora do útero. Aposte nas de tecido que podem ser aquecidas no microondas ou no ferro de passar e não apresentam risco de derramar o líquido do seu interior.
Quanto ao sono, não se assuste achando que o seu bebê só dorme! Bebês bem novinhos, geralmente, precisam dormir a cada três horas. Então, assegure que seu o bebê tirará as sonecas necessárias para descansar. Caso contrário, o acúmulo do sono do dia tornará a noite uma espécie de “efeito vulcão” e o bebê ficará irritado e não conseguirá adormecer.
Para regular o sono do bebê durante a noite é preciso estabelecer uma rotina de sono.
Por exemplo, uma sequência de eventos: massagem, banho e amamentação, associadas a um ambiente calmo. Tal como com luzes mais baixas, moderação nas conversas altas e brincadeiras, vão dando indícios ao bebê que a noite está chegando e que ele precisa dormir.
Chegamos ao final do nosso conteúdo! Então, se você está vivenciando a exterogestação conte com o apoio do dr.consulta.
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