Leptospirose: será que só o rato é o culpado?
A leptospirose é uma enfermidade que você provavelmente já ouviu falar. Talvez, inclusive, você a conheça como a “doença do rato”.
Ambos os termos se referem ao mesmo diagnóstico causado pela urina contaminada de roedores, que pode se espalhar por meio de águas de chuvas, além de outras formas de contaminação.
Segundo o Ministério da Saúde ela é considerada uma endemia no Brasil, ou seja, tem uma recorrência estável de casos. Outro fato é que normalmente seus diagnósticos tendem a aumentar nos períodos chuvosos, como no verão.
Entre 2007 e 2012, segundo o boletim epidemiológico de São Paulo, foram registrados mais de 400 óbitos por leptospirose.
Essa é uma doença que requer atenção de todos nós, já que pode representar um sério risco não só para a nossa saúde e para a dos animais – inclusive, os domésticos.
Ficar por dentro dos detalhes dessa condição e das formas de prevenção com esse material.
O que é leptospirose?
A leptospirose é uma doença transmitida pela bactéria leptospira, que está presente principalmente na urina dos ratos. Todavia, bovinos, cães, cavalos e suínos também podem ficar doentes e infectar os humanos.
A urina contaminada se dissemina mais facilmente na água, incluindo a da chuva. Por isso, as enchentes são bastante associadas a essa enfermidade.
Regiões de cidades com infraestrutura precária, falta de saneamento básico e infestações de roedores são as mais afetadas. Portanto, trata-se de uma condição que também expõe as desigualdades sociais.
Além disso, profissionais como agricultores, veterinários, pescadores e tratadores de animais, têm maiores riscos de serem infectados. Isso porque estão mais expostos à água contaminada e à urina dos animais.
Os principais sintomas
Existem casos que podem ser assintomáticos. No entanto, quando os sintomas de leptospirose aparecem, eles envolvem:
- dores musculares – principalmente nas panturrilhas;
- mal-estar geral;
- vermelhidão nos olhos;
- dores de cabeça e no tórax;
- calafrios;
- náuseas;
- vômitos;
- diarreia;
- tosse;
- desidratação;
- manchas vermelhas no corpo.
Geralmente, os sintomas surgem entre 7 e 14 dias após a exposição à bactéria.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 15% dos pacientes evoluem para as formas graves da doença, que iniciam após uma semana dos primeiros sinais.
Nessas condições, a pessoa pode ter:
- hemorragias;
- insuficiência renal;
- icterícia – que é um indício de problemas no fígado;
- lesões pulmonares;
- meningite e outras complicações.
O ideal é procurar ajuda médica na chamada fase precoce, quando os sintomas mais leves surgem.
Dessa forma, é possível iniciar o tratamento e o acompanhamento com as equipes de saúde primária, evitando que as condições fiquem mais sérias.
Ela é somente uma “doença do rato”?
O rato costuma ser o único animal lembrado quando se fala de como é transmitida a leptospirose.
Contudo, outros animais também podem ser infectados pela bactéria e transmiti-la aos humanos pela urina ou via água contaminada.
A infecção ocorre quando:
- existe algum tipo de machucado na pele;
- o contato com o líquido contaminado se estende por um longo período.
Além disso, existem hábitos perigosos que aumentam o risco da exposição, como:
- beber água sem tratamento ou filtragem – já que pode estar contaminada;
- consumir alimentos não higienizados corretamente;
Em períodos chuvosos, normalmente de dezembro a março no nosso País, quando há maior incidência da doença, é fundamental estar atento a algumas ações:
- não reaproveitar alimentos após enchentes;
- redobrar a fiscalização sanitária em locais em que alimentos são armazenados (principalmente onde há possibilidade de infestação de ratos);
- utilizar medidas de controles de pragas; e
- intensificar a atenção na higienização.
Como prevenir é sempre o melhor caminho, o mais adequado é evitar essas condutas e ter atenção redobrada na higienização de alimentos e com as fontes de água potável.
Quem está no grupo de risco?
Pessoas que vivem em situações de vulnerabilidade social, sem saneamento básico e em bairros sujeitos a enchentes são as que estão em maior risco de terem contato com água infectada e, consequentemente, com a leptospirose.
Os veterinários e tratadores de animais podem se expor com facilidade à urina contaminada e precisam de atenção e cuidado ao lidar com animais doentes.
É preciso também lembrar das pessoas que trabalham com a limpeza de bueiros e das ruas em geral. Por isso, o uso de equipamento de proteção individual, como luvas e botas, deve ser obrigatório.
Como é o diagnóstico?
Os sintomas de leptospirose podem ser confundidos com outras doenças, como a dengue, que também gera manchas vermelhas na pele, ou com uma gripe normal, pelo mal-estar geral.
Por isso, é importante que o paciente relate ao médico os seus hábitos e o que fez nos dias anteriores de apresentar os incômodos ou sintomas iniciais.
Ao mencionar o contato com água suja, e possivelmente contaminada, o especialista já pode ligar o sinal de alerta.
A partir disso, recomenda-se fazer um exame de sangue (sorologia) para identificar a presença da bactéria leptospira. Também pode ser necessário realizar a coleta do líquor, líquido situado na medula espinhal.
Cada caso pode ter uma abordagem diferente. Procurar um infectologista e realizar o tratamento indicado é fundamental.
Existe tratamento? E cura?
Sim! A leptospirose tem tratamento e pode ser curada. Na forma mais leve o médico prescreve antibióticos para destruir a bactéria, assim como outros medicamentos que aliviam os sintomas como analgésicos para as dores.
As condições mais graves podem demandar internação hospitalar e condutas específicas para as respostas positivas do organismo. Nas situações de falência renal, podem ser necessárias sessões de hemodiálise para normalização do quadro.
A leptospirose nos animais domésticos
A leptospirose é uma zoonose e, portanto, passada de animais para humanos. Como você já viu, várias espécies sofrem com essa doença.
Para os tutores de cães e gatos, a atenção deve ser redobrada. Isso porque é preciso dedicar uma atenção especial àqueles pets que vivem cotidianamente conosco.
A bactéria pode ter a mesma reação que a manifestada no corpo humano. Ela afeta diretamente os rins e gera o ciclo de urina contaminada e disseminação da doença.
Os sintomas nos animais envolvem:
- vômitos;
- prostração;
- febre;
- falta de apetite.
Com a obtenção do diagnóstico, é preciso ter muito cuidado enquanto o animal é tratado: usar luvas ao limpar fezes e urina e higienizar todo o ambiente.
A vacinação dos animais domésticos
Os pets podem se curar da leptospirose e ainda serem protegidos pela vacinação.
Os imunizantes estão disponíveis apenas para os animais e não para pessoas, mas já é uma importante arma no combate à doença.
Então, converse com o veterinário e mantenha atualizada a carteira de vacinas do seu companheiro. Assim, a saúde de toda a família e o bem-estar do animal estarão garantidos.
4 maneiras de como prevenir a leptospirose
Mesmo sem uma vacina para seres humanos, as pessoas têm vários outros recursos que contribuem com a prevenção da leptospirose.
A Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, indica alguns cuidados na prevenção. Veja os quatro principais:
1. Não ter contato com águas empoçadas, principalmente em períodos chuvosos
A maneira mais simples é evitar entrar em contato com a água da chuva empoçada ou com a lama de enxurradas e enchentes. Essa é a forma tradicional em que a urina contaminada com a bactéria se espalha, infectando em seguida outros animais e humanos.
Nos casos de exposição seguida de sintomas é importante procurar um médico para o diagnóstico adequado.
2. Usar hipoclorito de sódio em reservatórios de água
É recomendado colocar na caixa d’água, fossas e em locais que acumulam água uma solução de hipoclorito de sódio (um copo para cada 20 litros de água). Essa substância ajuda a matar a bactéria da leptospirose.
3. Use botas, calças e luvas em situações de risco
Vai lavar o seu jardim ou quintal? Não faça isso descalço! Prefira usar uma bota impermeável ou um sapato fechado para evitar contato com qualquer urina contaminada.
Para quem trabalha na rua como os bombeiros, militares, limpadores de bueiros e outras profissões, é necessário o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) fornecidos pelo empregador.
4. Só beba água filtrada e lave bem os alimentos
Não é só a chuva que dissemina a bactéria da leptospirose. Beber água contaminada também é um perigo, assim como usá-la para lavar frutas, verduras e folhas.
Portanto, a água deve ser filtrada ou fervida para ingerir ou cozinhar.
O que pode ser feito de diferente para se prevenir?
Veja quais atitudes são essenciais para prevenção e diminuição dos números de pessoas infectadas:
- não jogar lixo nas ruas, uma vez que essa péssima atitude pode entupir os bueiros e aumentar as chances de enchentes;
- a prefeitura deve ser chamada quando são encontrados bueiros entupidos;
- o descarte do lixo deve ser feito de forma correta, em sacos bem fechados a fim de evitar atrair ratos;
- manter a vacinação dos pets em dia;
- não deixar caixas d’água e fossas abertas;
- manter o quintal ou jardim sempre limpo;
- ensinar os filhos a não brincarem em lamas e poças de água.
São hábitos simples, mas muito eficientes no combate à bactéria leptospira.
Percebeu os sintomas?
Depois de uma situação de risco você começou a ter manchas vermelhas da pele, muito cansaço, dores, vômitos, diarreia e outros sintomas da leptospirose? Não demore para procurar ajuda médica!
Quanto antes iniciar o tratamento, melhor para as chances de cura e prevenção das formas graves.
Fontes: