Se você tem o costume de pesquisar sobre certos sintomas na internet, com certeza já deve ter encontrado informações alarmantes, que nem sempre correspondem à realidade.
Uma simples dor de estômago que se repete, por exemplo, pode ser diagnosticada como a famosa gastrite, especialmente quando associada à azia e queimação.
Mas, afinal, o que é gastrite? Como eu sei se estou com gastrite? Tem tratamento? Conversamos com a Dra. Andressa Gomes — gastroenterologista do Dr. Consulta — para entender melhor sobre essa doença. Continue a leitura e tire todas as suas dúvidas.
O que é gastrite?
Gastrite é uma doença caracterizada pela inflamação das paredes do estômago, e quando não tratada pode levar à erosão do revestimento do órgão.
A rigor, esse termo só deve ser usado após a realização de endoscopia com biópsia da mucosa gástrica (revestimento do estômago), que evidencia a inflamação. No diagnóstico também podem ser solicitados outros exames, como o exame de sangue e o raio-X do trato digestório.
Usualmente, esse termo tem sido empregado como sinônimo da síndrome dispéptica, composta pela dor no estômago, empachamento, queimação após a alimentação e eructação (arrotos).
Entre os fatores de risco para o surgimento da gastrite estão o uso excessivo de analgésico ou bebidas alcoólicas, estresse e distúrbios autoimunes.
Quais são os sintomas da gastrite?
Alguns pacientes não apresentam sintomas. Outros, relatam as seguintes queixas:
- dor na região superior do abdome;
- náuseas;
- vômitos;
- perda de apetite;
- sensação de “cheio” após a alimentação (empachamento);
- queimação.
Além disso, quando há sangramento da parede do estômago, o paciente pode expelir fezes escuras ou perceber a presença de sangue no vômito.
Quais são as causas?
Vários são os fatores envolvidos na origem da gastrite. A infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) é a principal causa de gastrite crônica não erosiva. Essa bactéria afeta a parede do estômago e pode ser transmitida de pessoa para pessoa e através de alimentos ou água contaminados.
Já nos casos de gastrite erosiva aguda ou crônica, os principais agentes envolvidos são: uso por longo período de anti-inflamatórios não esteroides, abuso de álcool e drogas.
Já em casos de grande estresse para o organismo (cirurgias extensas, queimaduras de alta gravidade e múltiplas fraturas), o paciente pode apresentar erosões na mucosa do estômago gerando gastrite de estresse — que pode evoluir para úlceras e hemorragia.
Outra causa rara de gastrite é quando o próprio organismo produz anticorpos que atacam a mucosa gástrica, denominada gastrite autoimune. Dessa forma, há uma redução da secreção ácida com redução na absorção de ferro e vitamina B12.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é obtido através da história do paciente (com investigação do uso de medicações e hábitos de vida), exame físico realizado pelo médico, solicitação de exames de sangue e endoscopia com biópsia da mucosa gástrica — além da pesquisa pela bactéria H. pylori.
Quais são os tipos de gastrite?
A classificação dos tipos de gastrite é baseada na duração dos sintomas, em sua causa e em qual região do estômago se concentra a inflamação ou infecção. Os principais tipos de gastrite são:
Gastrite aguda
Causada pela presença da bactéria Helicobacter pylori, a gastrite aguda tem sintomas que aparecem repentinamente, entre eles dor no estômago, náuseas e vômitos.
Se não tratada corretamente, com antiácidos e antibióticos, ela pode evoluir para a gastrite crônica. A adoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática de exercícios físicos pode auxiliar no controle da doença.
Gastrite crônica
Quando a gastrite se manifesta por tempo prolongado no organismo, a inflamação tende a aumentar e comprometer uma porção cada vez maior do revestimento do estômago.
Ela pode ser classificada por sua fase de evolução (superficial, moderada e final) ou pela região afetada (na parte final ou no corpo do estômago). A gastrite crônica pode evoluir para câncer se o tratamento — com antiácidos, protetores gástricos e antibióticos — não for seguido à risca.
Gastrite enantematosa
Ainda que os sintomas sejam semelhantes aos das outras variações da doença, a inflamação, nesse tipo de gastrite, atinge uma camada profunda do revestimento do estômago.
A doença pode ser causada por bactérias, pelo uso excessivo de medicamentos ou associada ao alcoolismo ou a doenças autoimunes.
O tratamento envolve uma dieta com restrição de gorduras, cafeína e açúcar.
Gastrite eosinofílica
O aumento de células imunes no estômago, comum em pessoas com histórico de alergias, também provoca os sintomas característicos da gastrite, em especial azia, náuseas e vômitos frequentes. O tratamento, normalmente, é feito com o uso de corticoides.
Gastrite nervosa
Muitas vezes, os sintomas de azia, a sensação de empachamento e vômitos podem surgir em situações de estresse e ansiedade. Nesse caso, o tratamento da gastrite nervosa envolve, além de antiácidos, a adoção de medidas para o controle do estresse, como prática de atividades físicas e uso de calmantes naturais.
Como tratar a gastrite?
Os medicamentos prescritos objetivam reduzir a acidez estomacal e melhorar os sintomas dispépticos do paciente. Entre eles, incluem os antiácidos, os bloqueadores H2 de histamina, os inibidores de bomba de prótons (IBP) e os procinéticos.
Alguns tipos de gastrite apresentam tratamento específico, como é o caso da gastrite eosinofílica, que requer o uso de corticoides. Em alguns casos, o tratamento será a suspensão de agentes nocivos à mucosa gástrica, como anti-inflamatório e álcool. Já o uso de antibióticos é necessário para erradicação da H. pylori.
A mudança no estilo de vida e nos hábitos alimentares também contribui para a melhora dos sintomas. É preciso cessar o tabagismo, evitar o álcool, café, alimentos ácidos e gordurosos.
Qual é o prognóstico da doença?
É muito importante que a doença seja prontamente diagnosticada e tratada. A gastrite crônica é sabidamente um fator de risco para úlcera péptica, pólipos gástricos e tumores gástricos benignos e malignos. Algumas pessoas com gastrite crônica pelo H. pylori ou gastrite autoimune desenvolvem um tipo denominado gastrite atrófica.
A gastrite atrófica destrói as células de revestimento do estômago, que são responsáveis pela produção de enzimas digestivas e ácidos. A gastrite atrófica pode levar a dois tipos de câncer: o câncer gástrico e o linfoma do tecido linfoide associado à mucosa gástrica (linfoma MALT).
Como prevenir a gastrite?
Uma recomendação importante para a prevenção da gastrite é evitar o uso de substâncias que causam irritação no estômago, como bebidas alcoólicas em excesso, cigarros, drogas e medicamentos sem indicação do médico.
Já a bactéria H. Pylori é transmitida por meio de água e comida contaminados ou de pessoa para pessoa. Por isso, a prevenção deve incluir hábitos básicos de higiene, como lavar as mãos frequentemente, consumir apenas alimentos de boa procedência e devidamente higienizados e evitar levar as mãos à boca.
Quando procurar um profissional?
Agende uma consulta com o gastroenterologista se apresentar sintomas dispépticos (dor de estômago, empachamento, náuseas, vômitos, queimação) há mais de duas semanas ou de forte intensidade.