Embora pareça que não há muita atividade do corpo enquanto ele está adormecido, vários mecanismos do organismo continuam funcionando ao longo da noite. No entanto, nem sempre tudo ocorre como esperado nesse período. Um exemplo conhecido disso é a chamada paralisia do sono.
Esse fenômeno, muitas vezes envolto em mistério, é relativamente comum. Apesar de o mais corriqueiro ser a ocorrência esporádica, em alguns casos ele pode se repetir com mais constância e atrapalhar o descanso, algo fundamental para a saúde.
A paralisia noturna e a fase REM do sono
Essa queixa surge quando uma pessoa acorda repentinamente, mas seu corpo permanece rígido e aparentemente incapaz de se mover. Para compreender melhor como isso transcorre, é importante entender como a dinâmica do movimento corporal muda a noite.
De modo geral, o repouso do organismo humano pode ser classificado em duas categorias principais:
- O sono não-REM, dividido em três fases.
- O sono REM.
REM é a sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos”. Essa etapa se repete algumas vezes durante a noite, alternando com os outros estágios. Ela é essencial para o descanso do cérebro e a consolidação das memórias. Coincidentemente, é nesse período que ocorrem mais sonhos.
Uma característica importante do sono REM é a atonia muscular. Em outras palavras, há uma espécie de interrupção da força e do movimento de quase todos os músculos do corpo, exceto aqueles essenciais para a respiração, para os batimentos cardíacos e, claro, o movimento dos olhos.
Na prática, esse mecanismo evita movimentos bruscos involuntários. Imagine, por exemplo, que uma pessoa estivesse sonhando com uma briga e tentasse dar um soco enquanto dorme ou tentasse pular em uma situação imaginaria de perigo.
Contudo, quando essa perda de força muscular persiste mesmo após o despertar, ainda que leve, acontece a paralisia do sono. A pessoa está consciente de tudo ao seu redor, mas devido a esse “desligamento”, só consegue mexer os olhos.
Paralisia do sono isolada
Se dá em poucas vezes ao longo da vida e não há associação com outros sintomas que possam sugerir um distúrbio. Na média, estima-se que até 8% de toda a população experimente pelo menos uma vez na vida um episódio do gênero, conforme artigo publicado na Sleep Medicine Reviews.
Paralisia do sono recorrente
Nestes casos, há uma maior frequência de casos (em média, duas vezes ou mais a cada seis meses), que frequentemente vêm acompanhados de angústia intensa, provocando medo relacionado ao sono ou ao local de dormir.
Dessa maneira, essa repetição tem uma causa que precisa ser investigada por um profissional. Uma das mais comuns é a narcolepsia, condição em que a pessoa sente sonolência constante, mesmo dormindo bem à noite. Além disso, pode ocorrer “ataques” de sono repentinos, adormecendo em qualquer lugar (inclusive no trabalho ou dirigindo).
Ela faz ainda com que o ciclo de adormecimento pule as etapas iniciais (em geral, de repouso mais leve) indo direto para a fase REM, onde o corpo perde a força muscular. Tal aspecto explica as chances maiores de a paralisia do sono se manifestar. O neurologista costuma ser o especialista indicado para avaliar e tratar esse quadro.
Outros tipos de alterações no sono
Comportamentos inesperados durante o sono, ao adormecer ou despertar são chamados de parassonias. Além da paralisia, outros exemplos conhecidos incluem:
- sonambulismo, em que há atividades complexas (como caminhar ou falar) enquanto se dorme;
- pesadelos e terrores noturnos, que provocam medo intenso durante o repouso;
- transtorno comportamental do sono REM, caracterizados por movimentos involuntários quando o corpo deveria estar rígido e sem atividade muscular;
- enurese noturna, nome técnico do xixi na cama regular, mais comum em crianças;
- síndrome das pernas inquietas, que desencadeia uma urgência incômoda de mover os membros inferiores.
Cada tipo de parassonia requer intervenções específicas, baseadas no diagnóstico feito por um médico especializado.
Além da avaliação clínica, o profissional pode aplicar questionários sobre a rotina de sono e ouvir relatos de parceiros e familiares. Em alguns casos, pode ser necessário realizar uma polissonografia, que registra a atividade do indivíduo durante o repouso.
Fatores que podem contribuir para isso
A paralisia do sono pode afetar pessoas de ambos os sexos e de todas as idades. No entanto, é comum que os primeiros casos apareçam na infância, adolescência ou no início da vida adulta. Alguns dos fatores que podem aumentar o risco de episódios frequentes são:
- narcolepsia, devido ao desarranjo no sono REM, conforme já destacado;
- rotina irregular de sono, em especial quando se troca os turnos de descanso por causa do trabalho;
- efeitos colaterais de certos medicamentos;
- certos quadros psiquiátricos, como transtorno do pânico, transtorno afetivo bipolar ou transtorno do estresse pós-traumático;
- abuso de álcool e outras substâncias.
É importante ressaltar que muitas das possíveis causas da paralisia do sono ainda não são bem compreendidas. Além disso, ter um acontecimento desses esporadicamente nem sempre indica algo mais sério ou que precise ser investigado.
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Como lidar com a paralisia do sono
Para casos em que o incômodo noturno é ocasional, medidas que promovam noites mais bem dormidas geralmente tendem a ser suficientes para reduzi-lo.
Esse conjunto de práticas é conhecido como higiene do sono. Elas ajudam a estabelecer uma rotina que priorize o descanso e podem ser úteis para tratar insônias, muitas vezes sem a necessidade de medicações. Algumas recomendações importantes são:
- dormir e acordar mais ou menos nos mesmos horários;
- reduzir o consumo de café e outras bebidas com cafeína;
- praticar exercícios físicos regularmente, mas não antes de deitar-se;
- se expor à luz solar durante o dia, por alguns minutos;
- manter o quarto de dormir sempre escuro, silencioso e com temperatura agradável;
- optar por atividades relaxantes antes de ir para a cama (como ler, beber um chá, tomar banho ou meditar);
- diminuir o contato com telas de celulares, computadores e televisores nos minutos que antecedem o repouso.
Nos casos em que a paralisia do sono se repete e começa a gerar medo ou ansiedade associados ao momento de dormir, o ideal é procurar ajuda especializada. A abordagem adequada normalmente envolve o tratamento da condição de base associada aos episódios e pode exigir suporte de psiquiatras, neurologistas e psicólogos.
Fontes: