As desordens alimentares são condições graves e caracterizadas como alterações comportamentais relacionadas à alimentação, que podem resultar tanto no consumo em excesso de alimentos quanto na recusa deles.
A condição está elencada entre os principais sistemas de classificação de patologias, como o DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e a CID-11(Classificação Internacional de Doenças).
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, mais de 70 milhões de pessoas do mundo todo convivem com algum tipo de desordem relacionada ao que comem. No Brasil, a compulsão alimentar é o mais comum entre os distúrbios do tipo.
Transtorno alimentar em jovens preocupa
Chama atenção o número de crianças e adolescentes que apresentam algum tipo de desordem alimentar, período em que o quadro começa a se manifestar.
De acordo com estudo brasileiro publicado no JAMA PEDIATRICS (Journal of the American Medical Association), mais de 20% de jovens entre 6 e 18 anos apresentam algum tipo de transtorno alimentar. O mesmo estudo mostrou que o quadro é mais frequente em meninas.
Comportamentos de quem tem desordens
Os sintomas variam conforme o tipo de alteração, mas geralmente incluem sinais comportamentais. Entre os principais indicativos estão:
- restrição de comida por períodos longos;
- episódios de vômito autoinduzido;
- uso de laxantes/diuréticos;
- prática extenuante de atividades físicas;
- uso de esteroides para o ganho de massa muscular.
Fatores de influência
A pesquisa científica mostra que as desordens alimentares são condições complexas e de causas multifatoriais – como genética, fatores psicológicos, socioculturais e ambientais.
Nessa linha, destacam-se os efeitos que a pressão social por padrões de beleza inalcançáveis, estimulados principalmente nas redes sociais, provoca na saúde mental das pessoas, especialmente em jovens.
A imposição da magreza como beleza ideal – e associada ao sucesso, à aceitação e ao status – faz com que muitos jovens persigam uma imagem corporal que não corresponde ao biotipo, levando a uma insatisfação persistente com a própria aparência (baixa autoestima), dificuldades de interação social, além de traumas psicológicos.
Esses fatores aumentam significativamente o risco de desenvolvimento de transtornos mentais como ansiedade e depressão, frequentemente associados a distúrbios alimentares como anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar.
É possível evitar o transtorno alimentar?
Um dos desafios do quadro é o cenário de subnotificação. Vergonha, medo ou falta de informação fazem com que muitos pacientes, assim como seus familiares, não saibam reconhecer os sintomas apresentados.
Por isso, no caso de crianças e adolescentes, é importante a atenção dos pais, educadores e demais familiares para identificar possíveis alterações na relação do jovem com a comida e investigar a situação o quanto antes, para que não se torne algo mais complexo.
Além disso, uma comunicação aberta e que alerte sobre os perigos dos distúrbios alimentares contribui para a conscientização do assunto e prevenção de novos casos. Vale também um trabalho de estímulo à aceitação da imagem (autoimagem) e ações que incentivem a valorização de diferentes tipos de corpos para que os jovens possam entender que os padrões impostos não são regras.
Tipos de transtorno alimentar
Anorexia nervosa
É caracterizada pela restrição alimentar, motivada, muitas vezes, pela busca da magreza. Nesses casos, distúrbios de imagem levam a pessoa a acreditar que está com excesso de peso.
O comportamento alimentar varia, mas costuma ser marcado pela recusa em se alimentar e, em determinados casos, pode haver episódios de vômito e uso de laxantes.
Bulimia
O quadro é marcado por episódios de compulsão alimentar seguida de vômitos autoinduzidos, privação alimentar ou uso de laxantes.
Além disso, a pessoa apresenta comportamentos de compulsão e compensação. Por isso, come em exagero, principalmente alimentos calóricos, e depois busca alguma forma de eliminar a comida ingerida do corpo.
As causas exatas não foram definidas ainda, mas sabe-se que pacientes com depressão e ansiedade costumam apresentar bulimia.
Compulsão alimentar
Considerado bastante comum no país, o quadro tem como característica o consumo de grandes quantidades de alimentos; como se a pessoa tivesse perdido o controle ao se alimentar.
Diferente da bulimia, a compulsão alimentar não costuma provocar comportamentos compensatórios, como vômitos, mas gera algum tipo de incômodo psicológico.
Transtorno alimentar restritivo evitativo
Ao contrário da anorexia ou mesmo da bulimia, o transtorno alimentar restritivo evitativo (ou tare) esse não está relacionado à busca pela magreza. A causa exata ainda é desconhecida, mas fatores psicológicos, como traumas e ansiedade, podem estar relacionados ao desenvolvimento do quadro.
Picafagia
Ao contrário dos demais transtornos, que envolvem a compulsão ou a rejeição de comida, a picafagia tem como característica a ingestão persistente de materiais fora do tradicional. Argila, papel, cabelo, entre outros podem ser o alvo do paciente.
Importante destacar que crianças menores de 2 anos e que sentem interesse em objetos inusitados não se enquadram em casos de picafagia. Isso porque faz parte do desenvolvimento da criança esse tipo de interesse – o que não dispensa a atenção dos pais aos objetos colocados na boca pela criança.
O risco da picafagia, em especial, envolve complicações derivadas da ingestão desses artigos não comestíveis, como obstrução intestinal, intoxicação (por chumbo, por exemplo) e infecção por parasitas.
Transtorno de ruminação
Consiste na regurgitação do alimento depois de ingerido. Esse alimento pode voltar inteiro à boca, o que leva a pessoa a mastigá-lo novamente (sem sentir náusea, ânsia de vômito ou repugnância) para conseguir engoli-lo.
Fatores gastrointestinais não conseguem justificar a ocorrência desse comportamento, sendo associado as situações de estresse.
Para descartar qualquer disfunção gástrica, é preciso a avaliação de um gastroenterologista. O profissional é capacitado para fazer o diagnóstico e oferecer o tratamento correto para intercorrências do aparelho digestivo.
Diagnóstico e tratamento
Como qualquer outro quadro clínico, determinar que se trata de um caso de transtorno alimentar exige a avaliação de profissionais da saúde, como psiquiatras e psicólogos. O diagnóstico envolve a análise do comportamento apresentado e, às vezes, de questionários específicos.
Com o Cartão dr.consulta, é possível ter acesso a diferentes especialidades médicas, inclusive psicólogos e psiquiatras, que podem ajudar na investigação de diferentes quadros:
O tratamento envolve cuidar do que causou a situação, o que pode significar o uso de antidepressivos em casos de transtorno alimentar derivado de depressão.
Além disso, ferramentas psicoterapêuticas, como a abordagem cognitivo-comportamental, contribuem para uma análise de padrões de conduta do paciente e possíveis intervenções.
Fontes: