Respirar é uma ação tão instintiva que, na maior parte do tempo, não se pensa sobre ela. No entanto, quando a qualidade do ar fica comprometida, é natural surgir preocupações com as consequências da poluição no organismo.
Além dos efeitos mais imediatos, que podem ser facilmente notados, como a dificuldade de inspirar e expirar, entre outros incômodos, o contato constante com essa alteração ambiental pode acarretar prejuízos a longo prazo.
Poluição atmosférica é uma realidade constante
O ar poluído é aquele que concentra uma série de partículas e substâncias acima do que é considerado adequado para o bem-estar.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entram nessa definição elementos como poeira, fumaça e diversos gases, além de outros materiais particulados (muitas vezes com tamanho que os torna praticamente invisíveis a olho nu) que ficam flutuando pelo ar.
Fora a quantidade de poluentes, outro fator que interfere no risco de absorver um ar poluído é o tempo: os danos tendem a ser maiores à medida que se passa um período maior exposto às condições inapropriadas.
Em diferentes cidades, não é difícil encontrar fontes desses elementos perigosos, que vão desde a fumaça dos carros até a queima de carvão envolvida na produção de energia, passando por incêndios ambientais e o material eliminado por indústrias. Desse modo, como aponta a OMS, no ano de 2024 cerca de 99% da população mundial vivia em locais onde a qualidade do ar não atendia aos requisitos básicos para a saúde humana.
Os sinais do organismo quando respirar fica mais difícil
A partir do momento em que se respira o ar com a pureza inadequada, é possível que o corpo apresente uma série de alterações logo nas primeiras horas ou dias diante dessa situação adversa. Elas aparecem com manifestações como:
- dores de cabeça;
- dificuldade maior para respirar, com encurtamento do fôlego;
- aumento no cansaço frente a esforços físicos;
- tosse constante;
- congestão nasal;
- sangramento pelas narinas;
- irritação e sensação de queimação nos olhos e nas mucosas (a pele que recobre o nariz e a garganta);
- piora nos sintomas de rinites, sinusites, quadros de asma, bronquite e de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
- ressecamento da pele.
Quando o foco é colocado sobre pessoas já diagnosticadas com alterações respiratórias ou cardiovasculares, as consequências da poluição tendem a atingir com mais intensidade idosos, crianças e mulheres grávidas.
A profissão que o indivíduo ocupa também pode acentuar a exposição aos poluentes. É o caso, por exemplo, de motoristas que passam muitas horas no tráfego intenso de cidades grandes.
Em situações como essas, é muito importante manter acompanhamento com uma equipe de profissionais qualificados. Para ter melhor acesso a consultas online ou presenciais com diversos especialistas e pagar menos em uma série de exames, é possível contar com os benefícios da assinatura do Cartão dr.consulta.
Quando a baixa umidade e a poluição se unem
Por fim, cabe ressaltar que o incômodo para respirar pode se tornar ainda maior nos momentos em que, além de poluído, o ar está muito seco. É o que acontece em parte do Brasil durante os meses de estiagem, algo que vem se ampliando nos últimos anos.
Sem a umidade necessária, há mais dificuldade na passagem do ar dentro dos canais (como as narinas e a garganta) até os pulmões. Em média, patamares abaixo de 30% já representam sinal de alerta. O ideal é que esse número gire sempre em torno dos 60%.
A secura excessiva também afeta a concentração de poluição no ar, agravando seus efeitos nocivos. Com água insuficiente na atmosfera, a quantidade de chuvas diminui. Sem essa “lavagem”, os poluentes se acumulam com mais facilidade.
Os riscos de longo prazo do ar poluído
As alterações provocadas ao inalar substâncias indesejadas não se restringem aos desconfortos mais imediatos já mencionados. Com o passar do tempo, ficar exposto à poluição aumenta a chance de uma série de complicações de saúde.
Enquanto algumas parecem óbvias (como alterações pulmonares), outras são menos reconhecidas como possíveis danos desse tipo de alteração ambiental. De todo modo, vale sempre considerar o acréscimo de risco elevado para:
- redução da capacidade dos pulmões;
- doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
- asma;
- pneumonias;
- enfisema pulmonar;
- problemas cardiovasculares (como infartos e acidentes vasculares);
- diversos tipos de câncer;
- doenças neurodegenerativas;
- diabetes (e outras disfunções metabólicas).
Um exemplo de como a poluição do ar tem impacto direto e nem sempre imediato, mas significativo sobre a saúde vem de um estudo feito nos Estados Unidos. Ele foi publicado em fevereiro de 2024 no The British Journal of Medicine.
Partindo da análise de dados de prontuários de pacientes com 65 anos ou mais, os pesquisadores concluíram que a exposição crônica (ou seja, acumulada ao longo da vida) mesmo a níveis baixos de material particulado muito fino no ar contribui para a probabilidade de hospitalização por conta de disfunções cardíacas.
A questão aqui é que o tamanho das partículas faz delas não só invisíveis a olho nu, como também capazes de ir além do tecido dos pulmões. Com isso, elas têm o potencial de atingir a corrente sanguínea e causar desarranjos de diversas naturezas em veias, nas artérias e no coração.
Recomendações essenciais para reduzir as consequências da poluição
Nos dias em que o ar piora (pela falta de umidade, pelo acúmulo de poluentes ou por ambos), essas recomendações colaboram para a redução do desconforto e facilitam a respiração:
- ingerir líquidos de forma abundante. Os dois litros de água são uma boa referência, mas podem ser complementados com chás, sucos sem açúcar ou água de coco;
- evitar ficar ao ar livre nas horas mais quentes, que é quando o ar também tende a ser pior. Isso pode mudar conforme o local, mas costuma ser entre 10 da manhã e 4 da tarde;
- lavar as narinas com soro fisiológico. Utilizando uma seringa sem agulha, é possível irrigar e limpar a parte interna do nariz algumas vezes ao dia;
- umidificar o ambiente (a sala ou o quarto, por exemplo) com umidificadores, toalhas molhadas ou mesmo baldes e bacias com água;
- manter portas e janelas fechadas ajudar a reduzir a quantidade de partículas de sujeira dentro de espaços fechados;
- acompanhar a qualidade do ar, dentro do possível. Além da imprensa, órgãos públicos costumam fazer tal trabalho. Em São Paulo, por exemplo, isso é responsabilidade da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
Ainda que raro, situações extremas podem exigir o uso de máscaras de proteção individual do tipo PFF2 (ou N95). Elas se tornaram populares durante a pandemia de COVID-19.
Elas são relativamente baratas e acessíveis e, se utilizadas corretamente bem ajustadas no rosto conforme as orientações do fabricante, reduzem a inalação de material proveniente de queimadas e alguns tipos de materiais químicos.
O momento certo de buscar atenção médica
Adicionalmente, é importante acompanhar como o próprio corpo reage e procurar ajuda especializada quando os sintomas (como tosse, dificuldade de respirar ou sangramentos nasais) não melhorarem ou piorarem com o decorrer dos dias.
Um clínico geral pode ser suficiente para uma primeira avaliação desses casos. Já o otorrinolaringologista é a especialidade dedicada ao cuidado do nariz, da garganta e dos ouvidos e está capacitado para a orientação necessária em situações que envolvam casos de rinite, sinusite ou queixas na garganta, entre outras suspeitas.
O pneumologista, por sua vez, é o responsável pela condição das vias aéreas inferiores, sobretudo dos pulmões. Ele atua para avaliar e tratar reclamações envolvendo dificuldade para respirar, tosses persistentes e outras formas de desconforto respiratório.
Mais do que uma questão individual, a boa qualidade do ar é uma questão de saúde pública. Dessa forma, é sempre importante reforçar que lidar com as consequências da poluição do ar agora e no futuro deve ser visto como uma missão de toda a sociedade.
Fontes:
- Companhia Ambiental do Estado de São Paulo;
- Instituto Nacional do Câncer;
- National Institute of Environmental Health Sciences;
- Ministério da Saúde;
- Ministério da Saúde;
- Organização Mundial de Saúde;
- Organização Mundial de Saúde;
- Organização Mundial de Saúde;
- Organização das Nações Unidas;
- The British Medical Journal.