Segundo a Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul (UFMS) a raiva é uma emoção humana básica que pode provocar reações fisiológicas. Em certa medida, é um sentimento totalmente comum e que está presente quando somos expostos a gatilhos de maior estresse.
Mas o que acontece se isso sai do controle? São nesses momentos que surgem as chamadas crises de raiva – mais vigorosas e enérgicas que uma irritação corriqueira.
Dependendo da intensidade, elas, inclusive, podem se transformar em algum ato de violência, o que gera grandes preocupações.
Sendo o Brasil um dos 20 países mais violentos do mundo, falar a respeito das emoções, saúde psíquica, autoconhecimento e sobre buscar ajuda para estabilidade emocional mostra-se muito relevante.
Crise de raiva: o que fazer se não é passageira?
A raiva, do ponto de vista biológico e evolutivo, é um mecanismo natural em boa parte das espécies de animais. Entretanto, a partir do momento em que a humanidade começou a se estabelecer, esse sentimento precisou ser moldado para o âmbito social.
Dessa forma, não está mais totalmente ligada à proteção da espécie ou “briga por território”, mas sim, a questões como estresse, ansiedade, apreensão com o trabalho, família, relacionamentos e assim por diante.
Mas quando deixa de ser normal?
Um dos principais indicativos é quando a fúria aparece de forma desproporcional, por meio de impulsos difíceis de serem controlados e como resposta a qualquer tipo de acontecimento, mesmo os mais banais.
As fortes reações ocorrem de forma intermitente e passam a prejudicar a vida social e profissional de quem as vivencia, muitas vezes afetando pessoas próximas e familiares.
Caso você se identifique com essa descrição ou se já passou por episódios similares, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico mostra-se fundamental para gestão desses sentimentos e gatilhos.
Quais são os sintomas?
Uma crise de raiva pode dar sinais claros de sua existência como:
- baixa tolerância a situações menos ou mais estressantes;
- reações físicas, como transpiração excessiva, batimentos acelerados, tensão muscular, dores de cabeça, musculares e na barriga;
- comportamentos agressivos, como violência verbal e física, vontade de descarregar a força em objetos, animais ou terceiros;
- dificuldade para dormir.
Relação com o Transtorno explosivo intermitente (TEI)
O Transtorno Explosivo Intermitente (TEI), é um diagnóstico relacionado à falta do manejo dos impulsos, que resulta em ápices de furor intensos e desproporcionais.
Como consequência, pessoas com o transtorno podem se envolver em discussões, ter comportamentos agressivos e utilizar da violência verbal e física em situações cotidianas. O indivíduo sente-se fora de si e não consegue controlar os próprios atos.
As sessões de terapia cognitivo-comportamental surgem aqui como um dos tratamentos e acompanhamentos possíveis.
Nelas ocorrem discussões abertas sobre episódios passados e sobre as maneiras de lidar com as crises de raiva e controlar as sensações de instabilidade.
Em outros casos, também pode ser necessário a administração de medicamentos. Nessas circunstâncias apenas o profissional da psiquiatria atua mais diretamente.
Algumas síndromes associadas
Além do TEI, também existem outras síndromes que não estão diretamente relacionadas à irritação ou impaciência, mas que geram alterações de temperamento contínuas. São elas:
Ansiedade
Pessoas que lidam com quadros de ansiedade (incluindo o Transtorno de Ansiedade Generalizada) podem vivenciar crises de raiva. Nesse contexto, a irritabilidade é um sintoma comum.
Além disso, também é habitual que os pacientes se sintam sobrecarregados, e tenham maiores níveis de frustração e desesperança – o que aumenta o sentimento de cólera e a falta de serenidade.
É válido relembrar que hoje em dia já existem diversos tratamentos para esses quadros clínicos, prescritos normalmente por psicólogos, psiquiatras ou terapeutas.
Síndrome de Borderline
A Síndrome de Borderline, por sua vez, tem como principal fator a instabilidade de humor que, em algumas situações, desencadeia ciclos de fúria. A terapia, é uma das formas de tratamento e tem como função conscientizar o paciente sobre as próprias emoções e buscar maior autocontrole.
Os grupos de apoio, as rodas de conversas coletivas e as discussões sobre causas, sintomas e maneiras de buscar o bem-estar também são boas alternativas, mas não substituem a ida a um psiquiatra.
É importante ressaltar que a busca por auxílio profissional deve ocorrer quando as crises de raiva tornam-se duradouras, intensas e rotineiras é um sinal para buscar ajuda ou ao perceber que, mesmo em menor vigor, a agressividade afeta negativamente o seu dia a dia.
Riscos e prejuízos à qualidade de vida
Mesmo que involuntários, os ataques de raiva costumam causar uma série de impactos negativos à qualidade de vida e às interações sociais. Esse é, por exemplo, um dos maiores motivos das demonstrações públicas de agressividade, como as brigas de trânsito, que muitas vezes resultam em mortes.
Segundo dados do Jusbrasil, cerca de 80% dos homicídios no Brasil são cometidos por impulso ou motivo fútil.
Ainda que não exista nenhuma ameaça ou risco externo, esses sentimentos levam a prejuízos à própria saúde. O estresse acelera os batimentos cardíacos e aumenta a pressão arterial, desencadeando em maiores riscos de infarto ou AVC.
Atenção à infância e a adolescência
Por fim, se você é responsável por alguma criança ou adolescente, é imprescindível prestar atenção aos comportamentos e identificar se há algum sinal de irritabilidade constante para encaminhar a um especialista.
Os menores também estão sujeitos a condições de descontentamento e ira, mas isso não pode ultrapassar os níveis considerados como normais ao ponto de violarem as normas sociais e os direitos dos outros.
Se você, seus filhos ou pessoa conhecida estiverem passando por isso, procure ajuda médica. Não espere por uma nova crise de raiva ou para ter uma consequência de saúde mais grave.
Você pode agir proativamente e preventivamente. Ter um diagnóstico e conhecer suas emoções pode contribuir para que você tenha uma vida e uma convivência melhor.
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Fontes:
- Raiva em crianças e adolescentes: estratégias de regulação – UFMS
- Distractibility, anxiety, irritability, and agitation symptoms are associated with the severity of depressive and manic symptoms in mixed depression
- Especialistas tentam explicar por que agressões por motivos banais têm se tornado frequentes – Instituto de Psiquiatria – IPq
- Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno explosivo intermitente: relato de caso | Scielo
- De 25% a 80% dos homicídios no Brasil são cometidos por impulso ou motivo fútil | Jusbrasil