O que é demência? O que fazer quando a memória não está boa
Com o envelhecimento da população, queixas de memória tem sido cada vez mais comuns nos ambulatórios de Neurologia e Geriatria. Além de toda divulgação da mídia que tem ensinado a população a identificar mais precocemente sinais que possam indicar o que é uma demência.
A demência é uma piora lenta ao longo de meses a anos, de alguma de nossas funções cognitivas que são:
- memória e aprendizado (capacidade de aprender e armazenar uma informação);
- linguagem (capacidade de se comunicar);
- função executiva e atenção (capacidade de manter a atenção e realizar tarefas do dia a dia);
- função de percepção e motora (capacidade de perceber o mundo através dos sentidos e conseguir usar utensílios, como ferramentas);
- cognição social (habilidades sociais).
O que é demência?
Para se pensar em um quadro demencial, apenas uma dessas funções precisa estar afetada. Na maior parte das vezes são 2 ou mais que estão:
- Função cognitiva: atenção;
- Exemplo de dificuldade: concentração para ler um livro, seguir o enredo de uma novela, manter a linha de raciocínio, esquecer o que ia fazer ao entrar num quarto.
- Função cognitiva: linguagem;
- Exemplo de dificuldade: articulando as palavras diferentes, usar a palavra incorreta ou distorcida (chamar “maça” de “laranja” ou “maçã” de “laçã”), dificuldade em encontrar a palavra, dificuldade de entender o que estão dizendo, dificuldade de seguir instruções (falada ou escrita).
- Função cognitiva: memória;
- Exemplo de dificuldade: precisa usar listas ou notas para lembrar, perguntas repetitivas, esquece conversas recentes, esquece onde colocou objetos, esquece eventos pessoais passados como trabalhos, cirurgias ou residências passadas.
- Função cognitiva: função percepção visual, espacial e motora;
- Exemplo de dificuldade: encontrar locais no seu bairro, objetos que estão diretamente na sua frente, reconhecer a face de familiares, reconhecer objetos comuns, bater o carro ao dirigir, andar batendo nos móveis ou no batente da porta, dificuldade em habilidades manuais como abrir uma lata, diminuição da destreza, da coordenação, da habilidade de usar ferramentas, de como colocar roupas, como sair da cama ou do carro.
- Função cognitiva: função executiva;
- Exemplo de dificuldade: cair em golpes, usar aplicativos ou ferramentas, cuidar das finanças, manter hobbies ou atividades laborais, planejar o dia.
- Função cognitiva: cognição social;
- Exemplo de dificuldade: levar o sentimento dos outros em consideração, fazer comentários inapropriados, perda de “maneiras”, de como se comportar, mostra menos empatia com as pessoas, menos interesse ou iniciativa para fazer atividades e tem comportamentos repetitivos ou compulsivos.
Fonte: Wicklund, M. (2021). Clinical Approach to Cognitive and Neurobehavioral Symptoms. Continuum (Minneapolis, Minn.), 27(6), 1518–1548. https://doi.org/10.1212/CON.0000000000001008.
Será que tenho demência? Outros sintomas parecidos
Mas, apenas ter dificuldades com essas funções não é o bastante para o diagnóstico de demência. Elas têm que ser frequentes e, normalmente, interferem em atividades que antes eram comuns, como:
- usar o telefone para fazer ligações;
- sair sozinho de casa e usar algum tipo de transporte;
- fazer compras no mercado;
- cozinhar;
- arrumar a casa;
- pequenos reparos dentro de casa ou atividades manuais;
- lavar e passar roupa;
- tomar suas medicações nas doses e horários corretos;
- cuidar das próprias finanças.
Outras doenças ou reações podem sugerir a demência e confundir os pacientes pelo fato de apresentarem sintomas muito parecidos. São exemplos:
Uso de medicações
Diversas medicações utilizadas, tanto medicações controladas, como não controladas, podem afetar a nossa função cognitiva. As mais comuns são Difenidramina, Buscopam, Clonazepam, Diazepam, amitriptilina, derivados de morfina, antibióticos, entre outros.
Delirium
A demência não se desenvolve em dias ou semanas, quando isso ocorre, devemos desconfiar de delirium. Esse estado característico em idosos, que passam a ficar ao longo de dias, desatentos, confusos, pensamento desorganizado e flutuando da sonolência para agitação.
As causas são múltiplas, que podem estar associados a uso de medicações, infecções, dor, constipação ou retenção da urina, abstinência de álcool ou até medicações como Diazepam ou Zolpidem, alterações em exames de sangue, doenças neurológicas, cardíacas ou pulmonares.
Quem é mais sensível a esses fatores e tem delirium é quem tem demência, baixa visão ou baixa audição. Trate ou previna muitas dessas doenças fazendo consultas e exames no dr.consulta. Assinantes do Cartão dr.consulta têm descontos exclusivos focados na atenção para a saúde:
Alterações do sono
Sono adequado é essencial para o bom funcionamento das nossas funções cognitivas. Então, insônia, apneia obstrutiva do sono, síndrome das pernas inquietas, todos esses podem dificultar a atenção, a função executiva e a memória.
Depressão
A própria depressão pode reduzir a atenção, a velocidade com que o cérebro processa as coisas e a memória. Antigamente era o que chamávamos de pseudodemência, pois era uma demência que melhorava com o tratamento da depressão.
Por isso, todo paciente que tem queixa de memória, deve ser avaliado para depressão.
Comprometimento cognitivo leve
Quando existem mudanças nas funções cognitivas, porém não impactam nas atividades diárias. Esse pode ser um estágio anterior ao aparecimento da demência, ou até algum outro fator impactando a função cognitiva como discutimos acima, medicação, sono, depressão, doenças cardíacas, neurológicas ou pulmonares, etc.
Como se preparar para uma consulta com um neurologista?
Sendo assim, aqui estão alguns pontos para se atentar antes de ir numa consulta de Neurologia e facilitar o processo:
- Sempre ir acompanhado. É essencial que alguém que tenha uma alteração cognitiva ou alteração de funcionalidade procure ajuda medica indo ao consultório, ou ao realizar uma consulta online vá com quem mais conhece e mais conviva. Isso pode ajudar nos exemplos;
- Levar todas as medicações que faz uso, até aquelas que não estão prescritas formalmente, como medicações para o sono ou fitoterápicos;
- Levar todos os exames desde o início dos sintomas, principalmente os de imagem como Tomografia Computadorizada de Crânio ou Ressonância Magnética de Crânio. Esses exames nunca ficam antigos, pois podemos comparar com os novos que iremos pedir. Outros exames importantes se já tiverem prontos são de tireoide (TSH, T4 livre), vitamina B12, sorologias (HIV, Sífilis), diabetes e colesterol.
- Lembrar de falar se tiver queixa em relação ao sono ou sintomas de tristeza.
Saber o que é demência e suas manifestações também permite o cuidado antecipado. Quanto antes a demência for diagnosticada, mais todos os profissionais de saúde podem fazer por quem irá conviver com essa doença que é bem debilitante, além de permitir a devida orientação para os familiares.
Conteúdo escrito por:
- Daniel N G Yankelevich – CRM-SP 185.315 / RQE 126.655.
- Graduado em medicina pela UEL (2011-2016), residência médica em Neurologia na UNIFESP (2020-2024), atualmente faz especialização em Alterações Cognitivas do Envelhecimento e Demências na UNIFESP.
- É coordenador da equipe de Neurologia do Dr Consulta e sócio da Consilium Neurologia Ltda.
Fontes:
- Wicklund, M. (2021). Clinical Approach to Cognitive and Neurobehavioral Symptoms. Continuum (Minneapolis, Minn.), 27(6), 1518–1548. https://doi.org/10.1212/CON.0000000000001008;
- Larson, E. B. M. M. (n.d.). Evaluation of cognitive impairment and dementia – UpToDate. Retrieved July 31, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-cognitive-impairment-and-dementia?search=cognitive%20evaluation&source=search_result&selectedTitle=1%7E150&usage_type=default&display_rank=1.