Conheça dicas para contornar o paladar infantil em adultos
Você certamente já se deparou com crianças com restrições alimentares, recusando constantemente experimentar novos alimentos, seja pelo sabor, pela cor ou mesmo pela textura da refeição oferecida. Mas o que pode ser feito quando esse tal paladar infantil afeta pessoas já na vida adulta?
É natural que cada um tenha certas preferências alimentares e a tendência a ignorar determinados alimentos, mas em situações extremas tal apego a certas escolhas podem trazer prejuízos nutricionais, sociais e até mesmo psicológicos.
Isso obviamente exige mudanças, principalmente tendo em vista a saúde e o bem-estar, então algumas recomendações podem ser valiosas.
Afinal de contas, por que alguns adultos têm paladar infantil?
As restrições alimentares de crianças são fáceis de identificar, já que esse é um comportamento típico (e até mesmo esperado) dessa fase da vida.
Assim, quando a criança não quer comer determinado alimento, ela recusa com facilidade o ingrediente e não raro se comporta de forma inadequada para não ter que encarar o prato com aquilo que a desagrada.
Mesmo entre crianças, ainda há muitas lacunas sobre o que se sabe a respeito da seletividade alimentar. Já em adultos, as dificuldades em entender as causas e as consequências podem ser ainda maiores, principalmente porque o esperado é que adultos estejam mais abertos a experimentar novos sabores.
De todo modo, é viável listar algumas possíveis causas para o fato. É provável, por exemplo, que os pais dessa criança não tenham tempo para variar o cardápio e apresentá-la a novos alimentos.
Além disso, pode ser que a sucessivas tentativas frustradas façam com que eles desistam de introduzir novos alimentos no cardápio infantil, inclusive por conta do estresse que essa situação pode gerar.
Dessa forma, a criança passa a recusar alimentos com certas texturas, sabores, aromas ou cores. Por outro lado, ela começa a priorizar itens de um grupo restrito de alimentos que costumam saciar alguma vontade específica ou que tenham determinado valor afetivo. É o caso, por exemplo, do indivíduo que só come pão ou batata frita.
No entanto, isso costuma passar com o tempo. Porém, pode acontecer de adolescentes e adultos permanecerem com essas restrições alimentares. É aí que se diz que o adulto tem um paladar infantil, uma vez que seus hábitos alimentares replicam aquilo que uma criança costuma fazer.
O que pode ser feito para contornar o paladar infantil entre adultos?
Uma grande diferença entre os adultos e as crianças é que depois que do crescimento há uma noção maior de que uma dieta variada é essencial para uma vida saudável. Logo, pode ser difícil alcançar a nutrição adequada ingerindo um grupo restrito de alimentos, o que torna essencial superar o paladar infantil.
É claro que ninguém vira fã de brócolis ou jiló do dia para noite. Mas com algumas dicas e um pouquinho de paciência é possível ampliar as variedades das refeições:
1. Vá sempre aos poucos
Quem não gosta de feijão, por exemplo, não precisa tentar uma feijoada logo de cara. Assim, procure por alternativas similares (como outras leguminosas) ou por receitas em que o item indesejado fique mais “escondido”.
2. Liste os alimentos que você nunca comeu
Seja por medo de não gostar, ou porque não conhece, listar os alimentos e tentar experimentá-los de maneiras diferentes pode ajudar nesse processo.
3. Faça as experimentações em lugares mais confortáveis
Comer algo novo sozinho em casa pode ser mais fácil do que tentar algo diferente em um jantar com os amigos, por exemplo.
4. Misture alimentos novos com seus pratos preferidos
Por exemplo, quem não gosta de ervilha pode tentar acrescentá-la em um molho para o macarrão.
5. Procure sempre por novas receitas
Cozinhar do seu jeito pode ajudar na tentativa de provar alimentos diferentes.
6. Não desista e dê novas chances para alimentos que você não tenha curtido de primeira
Existem evidências que mostram que entrar em contato várias vezes com o mesmo tipo de alimento (como vegetais, por exemplo) pode aumentar o consumo deles.
De todo modo, em determinadas situações a ajuda profissional (de um nutricionista ou de um psicólogo) pode ser importante para contornar o paladar infantil. Isso é relevante principalmente quando se considera diagnósticos psiquiátricos ou quando a restrição é provocada por algum desconforto relacionado, por exemplo, à textura dos alimentos.
No caso das restrições relacionadas a transtornos psiquiátricos, o mais comum é que elas ocorram em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e o Transtorno Alimentar Restritivo-Evitativo (Tare).
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Quais podem ser as consequências de uma dieta restrita?
De um lado, as consequências de uma dieta restrita por causa do paladar infantil são mais ou menos óbvias. Sem os nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo, podem surgir sinais e sintomas como fadiga, queda de cabelo ou deficiências de imunidade, entre outros. Além disso, alterações como a constipação (prisão de ventre) e as anemias podem ser mais frequentes.
Para ilustrar isso, um estudo de 2021 mostrou que pessoas que se consideravam “chatas para comer” ingeriam menos alimentos com fibras e vegetais em geral do que colegas com dietas menos restritas. Além disso, eles apresentaram maiores indicadores de fobia social (ou seja, de expor em situações de convívio coletivo).
Isso pode coincidir com os possíveis prejuízos para a saúde mental da seletividade alimentar: pessoas com esse comportamento podem se sentir pressionadas a seguir os mesmos padrões alimentares de outras pessoas e manifestar alguma frustração por não conseguir isso.
Com isso, não é incomum que esses indivíduos passem a evitar determinados contextos (como confraternizações, festas ou almoços em família) para não precisarem dar satisfação sobre alimentação ou por medo de não encontrarem nada que agrade o paladar.
Por fim, como não poderia deixar de ser, a restrição alimentar também traz prejuízos no longo prazo. Pesquisadores europeus mostraram que pessoas com traços de neofobia (ou seja, aversão a experimentar novos alimentos) tinham dietas piores e risco maior de desenvolver doenças como diabetes tipo 2.
Superar um paladar infantil não é fácil, mas ao mesmo tempo não deve ser motivo de constrangimento para ninguém. Na prática, o importante é tomar ciência dessa dificuldade, entender o que fazer para contorná-la e reforçar como uma alimentação equilibrada pode contribuir bastante para sua qualidade de vida.
Aproveite para saber em que momentos é importante procurar um nutricionista.
Fontes:
- Journal of Nutrition Education and Behavior;
- Science Direct, The American Journal of Clinical Nutrition;
- International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity;
- National Library of Medicine;
- Science Direct, Appetite;
- National Library of Medicine;
- Stanford Medicine Children’s Health;
- Jornal Brasileiro de Psiquiatria;
- Science Direct, The American Journal of Clinical Nutrition.