Entenda a fibromialgia e seus impactos no bem-estar

Conhecida pelos desconfortos capazes de afetar significativamente a qualidade de vida, a fibromialgia é uma síndrome complexa. 

Estima-se que cerca de 6 milhões de pessoas convivam com ela no Brasil, aponta a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

Geralmente, demanda acompanhamento especializado com médicos de diferentes áreas para proporcionar o melhor controle possível. Compreender melhor a condição é essencial para reduzir os estigmas que a cercam.

O que é fibromialgia

Caracteriza-se por dores musculoesqueléticas (em músculos, ossos, tendões e articulações) generalizadas, sem evidências de inflamações nos locais acometidos, diferentemente de outras enfermidades reumatológicas.

Pode estar distribuída da cabeça aos pés, com intensidade e frequência variáveis, e suscetível a fatores como esforço físico anterior e temperatura ambiente. 

Sua persistência interfere nas atividades cotidianas e frequentemente há perdas de produtividade e desempenho profissional causadas pela limitação funcional.

A suspeita em torno do diagnóstico tende a surgir quando ela está presente por pelo menos três meses e não se relaciona com outras questões de saúde.

É predominante no público feminino, especialmente entre 30 e 50 anos, com uma proporção de três mulheres para cada homem, de acordo com artigo publicado na Nature Reviews Rheumatology. 

Pessoa com fibromialgia é PCD?

Em 2025, foi sancionada a lei nacional 15.176 que permite a possibilidade de equiparar indivíduos com fibromialgia à pessoa com deficiência (PCD) para resguardar seus direitos. 

Para isso, é preciso avaliação biopsicossocial de equipe multidisciplinar (a ser regulamentada). A lei passa a valer em todo território brasileiro a partir de janeiro de 2026.

Sintomas associados

Além dos incômodos físicos, há uma combinação de outros sinais que frequentemente aparecem junto. 

Fadiga e distúrbios do sono

O cansaço varia de moderado a um estado de exaustão similar ao experimentado em quadros gripais. Até mesmo tarefas rotineiras (como limpar a casa ou caminhar) podem intensificá-lo.

É comum a dificuldade de dormir e o sono não reparador, mesmo após longos períodos de repouso, contribuindo para o ciclo de fadiga e os desconfortos característicos. 

Alterações cognitivas

Uma particularidade da fibromialgia é a chamada “névoa mental“. Isso provoca déficits de memória, prejuízos na concentração e na capacidade de processar novas informações.

As alterações cognitivas podem afetar significativamente o desempenho profissional e acadêmico, aumentando o impacto social e emocional.

Distúrbios psicológicos

Como as limitações podem levar ao abandono de atividades prazerosas e ao isolamento social, segundo dados publicados na revista JAMA Network Open, quase 55% dos indivíduos com o diagnóstico apresentam sintomas de depressão e transtorno de ansiedade generalizada. 

Manifestações paralelas

A síndrome ainda pode incluir:

• dores de cabeça e enxaquecas;
• sensações de formigamento e rigidez matinal em braços e pernas;
• boca seca;
• sensibilidade acentuada ao toque em regiões de tecido mole.

Devido à complexidade da patologia, pacientes passam, em média, por pelo menos 10 consultas médicas ao ano, demandando suporte similar a outras condições crônicas como diabetes e hipertensão arterial, conforme dados publicados pelo Annals of Internal Medicine. O reumatologista é o especialista dedicado a tratá-la.

Causas da fibromialgia e fatores de risco

De acordo com a SBR, o quadro não tem causa única bem estabelecida. Durante muito tempo, acreditou-se que a questão era unicamente psicossomática, envolvendo uma resposta do organismo a traumas ou emoções fortes. 

Atualmente, considera-se a hipótese de sensibilização dos mecanismos de regulação da dor. Isso significaria que o sistema nervoso tem dificuldade em processá-la adequadamente, gerando manifestações exageradas diante de estímulos dos nervos. À medida que isso se acentua, os sinais secundários aparecem. 

Porém, algumas evidências apontam outros possíveis componentes ligados ao seu desenvolvimento:

• hereditariedade (ou seja, algum componente genético);
• aspectos no sistema de defesa do organismo e a presença de infecções específicas, como uma espécie de “gatilho” para a condição;
• exposição a eventos estressores, sobretudo quando a situação é constante;
• alterações neuroquímicas, relacionadas ao desequilíbrio em diversos neurotransmissores, incluindo a serotonina, norepinefrina, dopamina e o glutamato;
• enfermidades autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.

Como é realizado o diagnóstico

Não existe qualquer exame que possa confirmar o diagnóstico, sendo essencialmente clínico e baseado na análise dos sintomas. 

Testes de sangue e de imagem podem ser solicitados para descartar outras alternativas, como disfunções autoimunes ou desequilíbrios hormonais.

Escalas específicas também são utilizadas para auxiliar o processo, medindo a gravidade, índice dos desconfortos generalizados e impactos provocados pelos incômodos associados, destaca a Academia Americana de Médicos de Família.

Opções de tratamento para a fibromialgia

O objetivo é controlar todas as manifestações. Por isso, o que se mostra mais efetivo é unir abordagens conforme as necessidades da pessoa atendida.

Medidas não farmacológicas

As principais recomendações que não dependem de nenhum remédio incluem:

• exercícios físicos regulares, combinando atividades aeróbicas (como caminhar, andar de bicicleta) com esforços de baixo impacto (a exemplo dos alongamentos) 
• fisioterapia, pois sessões especializadas podem amenizar os sintomas;
• psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, para desenvolvimento de mecanismos de enfrentamento;
• controle do estresse e manejo de gatilhos agravantes.

Práticas complementares como yoga e acupuntura também podem beneficiar alguns pacientes, mas as evidências científicas ainda são limitadas sobre sua eficácia.

Tratamento farmacológico

Diversos medicamentos podem ser prescritos para a fibromialgia, ainda que nenhum deles tenha sido feito especificamente para esse fim:

• antidepressivos;
• anticonvulsivantes;
• relaxantes musculares;
• analgésicos.

O médico responsável deve avaliar a severidade de cada caso para indicar as melhores escolhas.

Com o Cartão dr.consulta é possível ter acesso a diferentes especialidades, exames e programas de saúde que contribuem para o cuidado integral ao longo de toda a vida.

Embora a patologia não tenha cura, o acompanhamento profissional adequado e a adesão aos tratamentos propostos permitem o alívio dos desconfortos e a retomada de tarefas cotidianas, garantindo mais qualidade de vida e bem-estar.

Fontes:

• Academia Americana de Médicos de Família;
• Annals of Internal Medicine;
• JAMA Network Open;
• Journal of Clinical Medicine;
• Journal of Musculoskeletal Pain;
• Nature Reviews Rheumatology;
• Revista Brasileira de Reumatologia ;
• Sociedade Brasileira de Reumatologia.