O que é depressão e por que ela difere de estar triste

Entender o que é depressão, um dos transtornos de saúde mental mais comuns, ajuda a compreender por que essa condição é altamente incapacitante e capaz de reduzir a qualidade de vida em todas as faixas etárias.
A conscientização sobre o tema ajuda a diferenciar a depressão da tristeza passageira, causada por eventos do dia a dia, e a avaliar qual a melhor forma de acompanhar sua evolução.
Sintomas característicos do que é depressão
É natural que alguém que enfrente um momento complicado (o fim de um relacionamento, a demissão de um emprego ou a morte de um ente querido) apresente sinais de desamparo.
Porém, quase sempre tudo segue seu curso e, pouco a pouco, a sensação ruim vai virando apenas uma lembrança. Isso acontece mesmo quando a melancolia não tem causa específica.
Já na depressão (chamada pelos especialistas de transtorno depressivo maior), o sentimento amargo é uma constante, que se diferencia da mera angústia de acordo com os seguintes aspectos:
- humor deprimido ou ausência de prazer ou interesse em atividades antes satisfatórias, por no mínimo 14 dias (identificado pelo próprio relato ou por outras pessoas);
- alterações no peso e no apetite de modo não intencional, com aumento ou queda de massa corporal;
- insônia ou hipersonia (dormir mais que o comum);
- agitação ou lentidão corporal, mediante observação daqueles ao redor;
- fadiga ou perda de energia;
- sentimentos de culpa e inutilidade, que em casos extremos podem ser delirantes;
- redução na capacidade de tomar decisões, concluir tarefas ou se concentrar;
- pensamentos recorrentes sobre a própria morte, sem necessariamente planos específicos para isso.
Nem todos os sintomas precisam estar presentes. Já outras manifestações se fazem perceber em circunstâncias específicas (como irritação e tendência ao isolamento).
Além da duração, é preciso levar em conta a intensidade: a depressão gera comprometimento funcional (ou seja, prejudica o desempenho) em mais de uma esfera pessoal.
Assim, passam a existir dificuldades nos relacionamentos e queda de rendimento no trabalho ou escola que não é explicável por outro motivo.
As variações dessa disfunção do humor
Como não necessariamente uma depressão combina as mesmas características do transtorno depressivo maior, são propostos diagnósticos com determinadas variações conforme algumas circunstâncias, incluindo:
- transtorno depressivo persistente (distimia), em que os desequilíbrios são mais leves, mas permanecem por períodos que alcançam um ano ou dois anos;
- depressão pós-parto, que atinge mulheres nas semanas e meses posteriores ao nascimento de um filho e compromete a relação da mãe com a criança e todos que a cercam;
- transtorno afetivo sazonal, cujas flutuações de ânimo estão relacionadas às variações de contato com a luz solar à medida que as estações mudam (áreas onde há pouca claridade natural no inverno);
- transtorno disfórico pré-menstrual, em que os dias anteriores à menstruação trazem sintomas de tristeza e de ansiedade mais intensos;
- transtorno depressivo induzido por substância ou outra condição clínica que, como o próprio nome explica, define o quadro no qual os sentimentos negativos são explicados por esses fatores externos.
Em muitos cenário, alguém deprimido é diagnosticado junto com outras alterações psiquiátricas, como o transtorno afetivo bipolar ou algum distúrbio de ansiedade.
O que se sabe a respeito das possíveis causas para esse transtorno mental
Qualquer um está sujeito a desenvolver depressão. Mais do que discutir uma possível motivação para isso, cabe sempre reafirmar que ela nunca é consequência de fraqueza, de falta de vontade ou de um desvio de caráter.
Por muito tempo, existiu a noção de que os descompassos depressivos eram resultado de um desequilíbrio químico no cérebro, principalmente devido à serotonina. O neurotransmissor tem a função de ajudar os neurônios (as células cerebrais) a trocarem informações entre si.
Assim, a falta da ação desse elemento explicaria o rebaixamento do ânimo. No entanto, embora esse e outros componentes possam ter algum papel em como o organismo reage, isso não explica por completo as disfunções notadas.
Seja como for, toda discussão sobre as causas da depressão clínica deve incluir sempre fatores como:
- carga hereditária, já que histórico de depressão na família eleva a chance de ter a mesma condição;
- exposição a eventos estressantes, sobretudo em indivíduos com predisposição genética;
- determinantes socioeconômicos (como desemprego, contato com ambientes violentos ou ausência de redes de apoio);
- mudanças fisiológicas na estrutura cerebral;
- determinados traços de personalidade (predisposição a ver as situações pelo lado negativo ou ficar ruminando pensamentos).
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Os números da depressão no Brasil e no mundo
É difícil encontrar quem não conheça ao menos um amigo ou parente que tenha experimentado um episódio depressivo ao longo da vida.
E os números confirmam essa percepção. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que 15% dos brasileiros tenham um diagnóstico de depressão.
Globalmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que 3,8% da população global é afetada pela depressão. Entre os adultos, esse número alcança os 5%. Na prática, isso representa um total de 280 milhões de pessoas.
As evidências concordam que essa é uma queixa cerca de 50% mais presente entre as mulheres. Paralelamente, acredita-se que muitos casos surjam entre os 20 e os 25 anos.

O processo de diagnóstico da depressão
O estigma (tipo de preconceito) sobre a saúde mental é uma barreira na busca por auxílio qualificado. Assim sendo, não existe um estágio ideal para considerar o suporte profissional e isso nunca será um sinal de fragilidade.
Compartilhar o impacto das emoções com colegas e familiares e avaliar as impressões pessoais sobre os sentimentos também é uma boa estratégia para tentar entender que as coisas não vão bem e buscar melhorá-las.
De qualquer maneira, confirmar a presença do transtorno depressivo maior depende da atuação de especialistas capacitados na atenção com a saúde mental.
Logo, psiquiatras e psicólogos são os profissionais normalmente procurados. Para identificar a alteração no bem-estar psíquico, ambos coletam os relatos dos indivíduos a respeito de como eles têm se sentido.
Não há exame laboratorial (de sangue ou de urina, por exemplo) ou de imagem capaz de diagnosticar a depressão. Contudo, recursos do gênero eventualmente são relevantes para descartar explicações alternativas para o conjunto de sinais e sintomas apresentados.
As perspectivas a respeito dos tratamentos disponíveis
Quanto antes houver a confirmação, melhores as chances de que as opções de cuidado surtam o efeito esperado e previnam desfechos negativos associados à depressão (como tentativas de autolesão – em que a pessoa fere a si mesma).
Na falta de recomendação única para alcançar isso, cada caso depende de uma avaliação detalhada dos psicólogos e médicos psiquiatras.
Psicoterapia
Isoladamente, as sessões com o psicólogo costumam ser indicadas para os episódios leves ou moderados.
Outras abordagens podem ser consideradas, mas aquelas baseadas em técnicas cognitivo-comportamentais tendem a apresentar resultados satisfatórios em prazos menores.
O objetivo do atendimento psicológico não é só uma conversa para desabafar: durante as sessões se busca determinar emoções, padrões de pensamento e comportamentos que favorecem o humor deprimido.
Medicação
Para ocorrências moderadas ou graves, os medicamentos são prescritos em complemento à terapia. Para a maioria, tal junção oferece um retorno mais interessante.
Os antidepressivos costumam ser a principal escolha nessas situações. Existem diversos deles, mas atualmente os chamados inibidores seletivos da recaptação de serotonina são utilizados com maior frequência. Sua ação amplia a concentração do neurotransmissor no cérebro.
Além de mais eficientes, na média, eles provocam menos incômodos colaterais, o que colabora com a aceitação do tratamento. Porém, cabe ao médico dialogar com a pessoa atendida sobre qual a melhor alternativa, considerando variáveis como preço, período de uso previsto ou experiências anteriores com cada substância.
Em geral, são necessárias até quatro semanas para consolidação dos efeitos positivos. Por isso, a manutenção do acompanhamento é essencial para questionar a necessidade de aumento de dose ou substituição da receita.
Casos resistentes talvez exijam a combinação de mais de um tipo de medicamento e ajustes constantes nas quantidades para obter o benefício desejado.
Independentemente disso, o uso jamais deve ser interrompido por conta própria. A continuidade dentro do intervalo indicado, mesmo depois que os sintomas desaparecem, contribui bastante para reduzir o risco de recaídas.
Na hora apropriada, o responsável pela prescrição pode orientar a retirada da medicação. Remédios do gênero não causam dependência, mas deixar de tomá-los exige a supervisão profissional para minimizar alguns desconfortos.
Recomendações adicionais para prevenir e tratar um quadro depressivo

Medidas que promovam um estilo de vida saudável são as mesmas que contribuem não apenas com o tratamento da depressão, como com a prevenção de novos episódios.
Nesse sentido, os exercícios físicos são um destaque. Dados coletados por pesquisadores brasileiros entre 2008 e 2022, com 58 mil indivíduos acima dos 18 anos, e publicados em 2025 no Journal of Affective Disorders mostraram que qualquer nível de atividade física (caminhar um pouco, por exemplo) colabora com a redução dos sintomas.
Junto do esforço para movimentar o corpo regularmente, os hábitos que fazem a diferença na promoção da saúde mental são:
- manter uma alimentação equilibrada;
- encontrar estratégias para aliviar a tensão da rotina;
- contar com uma rede de apoio, com amigos e a família;
- priorizar o sono, garantindo noites mais tranquilas;
- repensar o uso de álcool e demais substâncias que afetam a consciência;
- aumentar o engajamento em atividades que proporcionem conexões sociais.
Para quem enfrenta a depressão, pode ser desafiador colocar todas essas mudanças em prática de uma só vez. Mas o importante é avançar aos poucos, respeitando os próprios limites e contar com o suporte especializado.
Fontes: