O papel da psicoterapia no cuidado com a saúde mental

Ficar frente a frente com um profissional de Psicologia e se dispor a falar de angústias, desejos e pensamentos é um desafio para muitos. No entanto, essa interação está na maioria das abordagens de psicoterapia.
Embora ela seja parte sobretudo do tratamento de diversas condições psiquiátricas, também pode integrar a rotina de quem deseja aprimorar o autoconhecimento ou aprender a lidar melhor com as dificuldades da vida, sempre mirando um maior bem-estar.
Origem e definição geral do que é a psicoterapia
O Conselho Federal de Psicologia define a intervenção como um método para abordar disfunções de natureza emocional, no qual alguém treinado estabelece uma relação profissional (por meio da fala, em espaços específicos) com uma pessoa que busca assistência.
O objetivo é sanar ou modificar sintomas, corrigir padrões inadequados que cercam as interações interpessoais e promover o desenvolvimento da personalidade. A Associação Norte-Americana de Psiquiatria complementa e aponta que a psicoterapia favorece o alívio dos incômodos notados e ainda contribui para identificar as causas psicológicas por trás da disfunção.
Terapia e psicoterapia
Ambos os termos acabam sendo usados como sinônimos. Em tese, não há problema em relação a isso. Porém, existem diferenças.
Terapia é uma palavra grega, que significa “cura” ou “tratamento”. Ela define qualquer procedimento que visa combater uma enfermidade. Tomar um medicamento para combater uma infecção é uma terapia.
A psicoterapia acrescenta o termo “psico” (traduzido do grego como “alma”) para definir o processo baseado nessa troca entre profissional e indivíduo.
Ou seja, essa é uma forma de terapia, mas essa palavra se refere também a iniciativas que não têm necessariamente a ver com saúde mental.
Principais indicações das diferentes psicoterapias
A lista de motivos que estimulam a procura desse tipo de tratamento é extensa. Os mais comuns são os transtornos de saúde mental, incluindo:
- depressão;
- transtornos de ansiedade;
- transtorno obsessivo-compulsivo;
- transtornos alimentares;
- dependências químicas ou comportamentais (como o vício em apostas);
- transtornos de estresse pós-traumático;
- transtornos de personalidade;
- transtorno afetivo bipolar.
Em parte dos casos, a indicação da necessidade de psicoterapia vem de outro profissional de saúde (o psiquiatra, frequentemente). Junto da medicação, o médico recomenda as sessões para compor o tratamento do quadro diagnosticado.
No entanto, não é preciso a confirmação de um diagnóstico para procurar acolhimento. Vários sinais e sintomas indicam que a conversa estruturada é indicada:
- sentimento constante de tristeza, irritação, preocupação ou desesperança;
- ansiedade persistente, que perdura por semanas ou meses;
- dificuldades de concentração;
- incapacidade de realizar tarefas do dia a dia;
- perda de prazer em atividades antes satisfatórias;
- alterações no sono, no apetite ou no peso (sem outra explicação);
- adoção de comportamentos que colocam em risco a si ou aos que estão próximos;
- abuso de álcool ou de outras substâncias;
- histórico de episódios traumáticos;
- exposição repetidas a situações de estresse.
A psicoterapia também pode ser útil em realidades específicas. É o que acontece no suporte de cuidadores (por exemplo, pais de portadores do transtorno do espectro autista).
O Cartão dr.consulta facilita o acesso a especialistas em saúde mental, oferecendo a possibilidade de obter tratamento personalizado para as mais diversas condições.
Além disso, o programa Viva Bem complementa o suporte com atendimento multidisciplinar. Os pacientes podem esclarecer dúvidas e acompanhar a evolução dos sintomas de forma integrada e acessível.
As abordagens mais conhecidas dessa intervenção
Reconhecer os traços mais marcantes de cada escola da Psicologia é um primeiro passo na escolha daquela que poderá ser mais compatível com as necessidades individuais.
Terapia Cognitivo-Comportamental
Chamada de TCC, foi criada nos anos 50 pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck. A lógica por trás da terapia cognitivo-comportamental envolve a noção de que o modo de agir e as emoções humanas são influenciados por padrões consolidados ao longo da vida.
Quem acredita ser julgado constantemente possivelmente consolida internamente essa ideia com tanta rigidez até ela disparar um transtorno de ansiedade.
A conversa no consultório é o ponto inicial para entender a fonte dessas crenças e como agir para desfazê-las, partindo de exercícios e reflexões voltadas para retomar o foco no presente.
Análise Comportamental (TCC)
A meta aqui é compreender por que determinadas ações apareçam mediante a exposição a estímulos exteriores.
A partir disso, a terapia comportamental mira eliminar conexões que gerem reflexos negativos. Simultaneamente, há uma busca por promover comportamentos considerados positivos por meio de sugestões capazes de romper modelos de ação estabelecidos.
Essa área do conhecimento sustenta terapias utilizadas por crianças com transtornos do espectro autista. A mais conhecida é o ABA (Análise Aplicada do Comportamento, na sigla em inglês).
Psicanálise
Fundamentada nas reflexões do neurologista austríaco Sigmund Freud, a psicanálise foi um marco da ciência entre os séculos 19 e 20.
Responsável pela popularização do divã, trabalha considerando que as motivações de desconfortos psíquicos estão “escondidas” no inconsciente. A fala livre durante as sessões seria o caminho mais direto para acessar esse lado oculto.
Cabe ao analista ajudar o analisando a estabelecer associações desses discursos para dar sentido a traumas, vivências ou elementos que interferem nos sentimentos atuais.
Diversos estudiosos seguiram os estudos de Freud e estabeleceram variações da psicanálise, destacando nesse cenário as abordagens junguianas (de Carl Jung) e lacanianas (de Jacques Lacan).
Mais do que tratar uma condição específica, a psicanálise é frequentemente utilizada no exercício do autoconhecimento.
Terapia Interpessoal
O destaque aqui é o tempo reduzido do tratamento (em períodos que geralmente não ultrapassam as 12 semanas).
Além disso, ela costuma focar em um único quesito específico das emoções da pessoa, considerando a influência dos relacionamentos e as escolhas que cada um faz para si nessa esfera.
A terapia interpessoal considera que as causas de um transtorno psíquico estão na maneira como a pessoa se comunica ou constrói laços com os demais. O método é bastante utilizado em quadros de depressão.
Terapia de Casal
Ela reúne cônjuges para discutir juntos fatores que estejam contribuindo para atritos no convívio.
Essa configuração permite a cada elemento do casal expressar seu ponto de vista e ouvir o outro, identificando as causas de conflito e descontentamento.
Terapia em Grupo
Pessoas, normalmente com aflições similares, se reúnem para compartilhar experiências e receber a orientação do psicólogo a respeito das questões trazidas para aquele contexto.
A circulação dos relatos é um meio importante para a superação de diferentes dependências ou para fortalecer aqueles que compartilham uma mesma condição crônica de saúde incapacitante por conta de dores ou outros reflexos (como a fibromialgia).
Psicoterapia Infantil
Segue os conceitos gerais daquelas voltadas para o público adulto, mas com ajustes para acolher os pequenos.
Já que alguém muito jovem certamente tem dificuldade de dizer o que está se sentindo, o psicólogo recorre a brincadeiras para analisar o comportamento nos primeiros anos de vida.
Dessa forma, é comum ter jogos, espaços para desenhos e outros recursos dentro do local de atendimento.
As sessões são feitas somente com a criança, mas os pais são centrais no processo. Eles devem se encontrar periodicamente com o psicólogo para passar informações, entender a evolução da situação e receber orientação apropriada.
Os benefícios comprovados dessa prática
Com o tempo, os especialistas foram reunindo evidências de que psicoterapias calcadas em técnicas válidas e disponibilizadas por profissionais capacitados são meios efetivos na promoção da saúde mental.
Os maiores avanços costumam ser notados em manifestações depressivas, ansiosas e associadas a traumas.
Um estudo de 2023 da revista World Psychiatric reuniu a literatura sobre o tema para sustentar que a base cognitivo comportamental trazia ganhos no curto e no longo prazo, inclusive quando comparados com outras opções empregadas contra a depressão.
Conforme as circunstâncias, é provável que a combinação de psicoterapia e medicamentos seja mais eficiente. Diante disso, o suporte do psiquiatra torna-se igualmente relevante. É esse o especialista habilitado para prescrever os fármacos adequados.
O potencial da terapia online
Essa alternativa tornou-se popular desde a pandemia de COVID-19, quando a recomendação era ficar em casa e evitar contatos presenciais. Para que não houvesse desassistência, a conversa foi então transferida para as videoconferências pela internet.
Mesmo com o fim das restrições, o atendimento remoto é uma opção interessante para muitos. Ele não exige deslocamento e só precisa de um cômodo silencioso e conexão estável à rede.
A boa notícia é que investigações acerca dessa possibilidade apontam que os benefícios obtidos são equivalentes àqueles da terapia cara a cara.
Uma pesquisa pequena feita em uma universidade suíça separou dois grupos (com cerca de 30 integrantes cada) com sintomas depressivos: um deles passaria pelas consultas online e o outro faria as sessões presencialmente. Depois de oito semanas, indivíduos de ambos os recortes apresentaram diminuição das queixas.
E não só isso: após três meses, os convidados para a intervenção digital mantiveram a melhora, em contraste com quem ia até o local:
Dicas para escolher um psicólogo de confiança
Por depender de um relacionamento interpessoal, não é fácil encontrar o profissional certo logo de cara. Para orientar a busca, vale sempre analisar itens como:
- a formação de quem prestará o atendimento e o seu respectivo registro no conselho de classe;
- a experiência daquele terapeuta no manejo de condições específicas ou determinados grupos (crianças, por exemplo);
- a abordagem e a dinâmica de trabalho;
- o preço, a frequência e a duração das sessões;
- a perspectiva de manutenção do tratamento (alguns duram semanas, enquanto outros seguem anos a fio);
- a definição dos objetivos.
Obviamente muitos fatores envolvidos na construção do vínculo das partes são subjetivos e impossíveis de controlar.
Se as coisas não estiverem saindo conforme esperado, o ideal é comunicar o psicólogo e, talvez, repensar a escolha.
O que esperar de uma sessão de psicoterapia
Determinadas particularidades variam conforme a escola psicoterápica (o uso do divã é quase um símbolo da psicanálise, entre outras adaptações), mas no geral ele transcorre da seguinte maneira:
- no horário previamente agendado, a pessoa comparece ao consultório (ou a sala online);
- os encontros duram entre 30 minutos e uma hora, mas isso varia;
- o psicólogo deixa que o indivíduo fale primeiro ou começa a conversa com algumas perguntas (“O que o trouxe aqui”, “Porque o interesse pelo auxílio agora?”);
- os desdobramentos das respostas induzem o diálogo para pontos de interesse, abordando assim sintomas afetando a rotina, o histórico familiar ou relato pertinente;
- dependendo da metodologia, são feitas pequenas “lições de casa”, como elaborar listas ou registrar a periodicidade de determinadas manifestações;
- adicionalmente, são sugeridas medidas adicionais na busca do diagnóstico adequado e a melhora esperada, incluindo a necessidade de consultar um psiquiatra.
Um pilar da psicoterapia que merece muito destaque é a confidencialidade. Portanto, ser honesto e transparente, mesmo sobre tópicos sensíveis, não deve esbarrar no medo de que tudo saiasaía dali. Pelo contrário: essa é parte do compromisso fechado pelos lados do contato ali estabelecido.
Fontes:
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[…] sessões junto do psicólogo são um recurso para entender melhor as emoções e comportamentos e trabalhar as respostas aos […]
[…] é porque uma abordagem de psicoterapia funcionará para uma pessoa, que irá funcionar para outra. Nessa situação o ideal é buscar por […]
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