TDAH não é só falta de foco e não atinge só crianças
O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, ou TDAH, é uma condição neurobiológica que, ao contrário do que se imagina, vai muito além da simples dificuldade de concentração.
O diagnóstico é caracterizado por padrões persistentes de desatenção em conjunto com hiperatividade e impulsividade, afetando pessoas desde a infância até a idade adulta.
Esse é um espectro complexo de sintomas que impacta significativamente o desempenho acadêmico, profissional e social, sobretudo quando não há o devido tratamento.
Entenda o que define o TDAH
Ele é classificado como um transtorno do neurodesenvolvimento. A condição surge devido a alterações no funcionamento de determinadas áreas cerebrais.
As regiões mais afetadas são aquelas responsáveis por mecanismos que proporcionam o controle, a memória e a capacidade de se adaptar a diferentes situações.
O transtorno é resultado da interação entre fatores genéticos e ambientais. Contudo, acredita-se que os genes herdados desempenham um papel preponderante na evolução da condição, sobretudo em comparação a outros transtornos de saúde mental.
Uma publicação do periódico Molecular Psychiatry aponta que cerca de 74% do risco de desenvolver a condição é proveniente da genética. Na prática, isso significa que filhos de pais e mães com TDAH têm uma chance muito maior em comparação a quem não apresenta a suscetibilidade na família.
No Brasil, documento do Ministério da Saúde indica que 7,6% de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos apresentam sintomas de TDAH. Esse percentual está em linha com o que acontece em outras partes do mundo, onde a frequência dos casos varia entre 3% e 8%, segundo a mesma publicação.

Conheça os principais sintomas do TDAH
Os traços do transtorno se manifestam em três dimensões, que podem aparecer de forma isolada ou combinada para gerar prejuízo.
Dessa forma, levam-se em conta características relacionadas à desatenção, hiperatividade e impulsividade para orientar o diagnóstico.
Em relação à deficiência na atenção, é provável que o indivíduo:
- frequentemente não preste atenção a detalhes ou cometa erros por descuido;
- tenha dificuldade em manter a atenção e organizar jogos e atividades;
- pareça não ouvir quando chamado diretamente;
- não siga instruções e não complete tarefas;
- evite situações que exigem esforço mental contínuo;
- perca frequentemente objetos necessários para suas obrigações;
- seja facilmente distraído por estímulos externos;
- esqueça atividades diárias com frequência.
Já os âmbitos da hiperatividade e da impulsividade se manifestam por comportamentos como:
- movimentos constantes das mãos ou pés, que não devem ser confundidos com os tiques da síndrome de Tourette;
- incapacidade de permanecer parado em situações em que se espera que fique sentado;
- correr em situações inapropriadas;
- dificuldade para brincar ou fazer atividades em silêncio;
- estar frequentemente “a mil” ou agindo como se estivesse “ligado na tomada”;
- falar em excesso;
- responder abruptamente a perguntas antes de serem completadas;
- perceber como algo desafiador ter de esperar a sua vez;
- interromper ou se intrometer em conversas ou jogos.
Vale ressaltar que os sintomas devem estar presentes em pelo menos dois ambientes (em casa e na escola, por exemplo). Além disso, é comum que eles surjam antes dos 12 anos de idade.
Dados disponíveis em um artigo publicado no Journal of Affective Disorder reforçam que a alteração é duas vezes mais comum nos meninos em comparação às meninas.
Os diferentes tipos de TDAH
O transtorno é classificado em três apresentações distintas, baseadas na predominância dos sintomas observados.
- na versão predominantemente desatenta, os elementos de desatenção (em geral, pelo menos seis deles) são mais evidentes;
- no sentido oposto, indivíduos com a condição predominantemente hiperativa/impulsiva desenvolvem com mais relevância os traços de agitação motora e impulsividade;
- por fim, a apresentação combinada é a forma mais comum do TDAH, em que comportamentos de desatenção e hiperatividade/impulsividade são mais ou menos igualmente persistentes.

A presença da condição em adultos
Contrariamente ao que muitos acreditam, o TDAH não desaparece na vida adulta. Embora alguns sintomas possam se modificar com a maturidade, parte das crianças diagnosticadas continua apresentando sintomas significativos depois que crescem, com algumas particularidades:
- a hiperatividade motora pode se transformar em inquietação interna;
- dificuldades organizacionais se tornam mais evidentes com responsabilidades crescentes;
- obstáculos para cumprir prazos e manter foco se ampliam, inclusive no trabalho;
- há um maior risco de desenvolvimento de outras condições, como ansiedade e depressão.
Muitas vezes, o transtorno passa despercebido durante toda a infância e só é diagnosticado em indivíduos mais velhos, ainda que esse seja um desafio relevante por conta de sinais que se confundem com outras questões psiquiátricas.
O passo a passo do diagnóstico e do tratamento do TDAH
A confirmação de um caso é baseada em análise detalhada conduzida por profissional especializado. O trabalho do psiquiatra costuma ser o mais indicado para o devido acompanhamento dessa suspeita.
Apesar disso, não existe um exame específico que aponte a presença do transtorno. Assim, o processo pode exigir:
- histórico médico e psiquiátrico completo;
- entrevistas com o próprio indivíduo e, eventualmente, familiares;
- observação do comportamento em diferentes contextos;
- avaliação neuropsicológica;
- exclusão de outras condições que possam explicar os sintomas.
Em paralelo, o apoio de um neurologista é pertinente, sobretudo para descartar alterações neurológicas capazes de provocar queixas similares. Às vezes, é necessário recorrer a exames de imagem (como uma ressonância magnética, por exemplo).
Depois disso, o tratamento eficaz do TDAH combina diferentes abordagens terapêuticas, adaptadas às necessidades de cada pessoa.
Os medicamentos estimulantes e não estimulantes devidamente receitados pelo especialista são a primeira linha de tratamento para casos de moderados a graves, incluindo nisso os eventuais sintomas associados.
Além disso, as abordagens não medicamentosas são fundamentais e envolvem iniciativas como:
- psicoterapia, especialmente terapia cognitivo-comportamental, que se mostra efetiva em muitos casos, como aponta artigo sobre o tema publicado em 2023;
- orientação familiar para desenvolvimento de práticas de manejo;
- adaptações ambientais no trabalho ou escola.
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A importância do tratamento adequado
A evolução do TDAH pode desencadear consequências significativas posteriormente. Pessoas sem acompanhamento adequado apresentam maior risco de:
- baixo rendimento acadêmico e abandono escolar;
- dificuldades profissionais e mudanças frequentes de emprego;
- atritos nos relacionamentos pessoais;
- exposição indevida a diversas situações de risco;
- desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e emocionais secundários;
- abuso de substâncias lícitas e ilícitas.
Por outro lado, o suporte adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida, proporcionando uma rotina mais estável e produtiva.
O papel dos pais de crianças e adolescentes com TDAH
O apoio e o acolhimento familiar são fundamentais para o sucesso do tratamento. Os cuidadores desempenham papel central no manejo cotidiano dos sintomas e no desenvolvimento de medidas de enfrentamento. Alguns dos recursos mais simples dependem de medidas como:
- estabelecer rotinas estruturadas e previsíveis;
- criar ambientes organizados e livres de distrações excessivas;
- usar reforços positivos para incentivar comportamentos adequados;
- dividir tarefas complexas em etapas menores e mais manejáveis;
- manter comunicação clara e objetiva;
- participar ativamente da vida escolar.
Ao mesmo tempo, cuidar de uma criança hiperativa, desatenta ou impulsiva é desafiador. Portanto, os responsáveis devem buscar apoio psicológico quando necessário para proteger a própria saúde mental.
Com assistência qualificada, crianças, adolescentes e adultos com TDAH podem desenvolver todo seu potencial e levar vidas felizes e satisfatórias. Logo, o reconhecimento precoce dos sintomas e a busca por ajuda profissional são os primeiros passos para uma jornada bem-sucedida.
Fontes:
[…] O transtorno disruptivo de desregulação do humor combina elementos depressivos com episódios de irritação e comportamento muito fora do costumeiro, no intervalo que vai dos seis aos dez anos. Na infância, pode se manifestar junto de outros distúrbios de natureza psicológica, como o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ou o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). […]
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