As particularidades da depressão infantil

A depressão infantil é um transtorno psicológico que vem recebendo cada vez mais foco, inclusive por conta do aumento da preocupação com a saúde mental nesses primeiros anos de vida.
E embora a identificação adequada das manifestações depressivas seja um desafio, com o suporte especializado é possível não só confirmar o diagnóstico, como obter a devida orientação para o tratamento.
Por que a depressão infantil merece atenção
A Organização Mundial da Saúde aponta que um terço das condições psiquiátricas manifesta-se em indivíduos antes dos 14 anos. A entidade também indica que um em cada sete jovens entre 10 e 19 anos é afetado por transtornos depressivos ou de ansiedade, no mundo todo.
Embora seja complicado calcular esses números com precisão, as estimativas indicam que a incidência de quadros depressivos entre crianças é de cerca de 1%, com distribuição igual nos meninos e nas meninas considerando o recorte abaixo dos 13.
No entanto, à medida que a puberdade avança, o risco de desenvolver um transtorno depressivo aumenta de duas a quatro vezes. Além disso, nessa fase é comum que as meninas passem a apresentar maiores índices de adoecimento psíquico.
Adicionalmente, muitas crianças enfrentam dificuldades, com diminuição no desempenho escolar, impossibilidades de integração social ou a adoção de comportamentos nocivos sem que isso desperte a atenção dos adultos.
Os sintomas que sugerem a presença da depressão infantil
Em linhas gerais, a característica principal é um humor deprimido (com choro constante ou redução do interesse em estudar ou brincar) que persiste na maior parte do tempo por no mínimo duas semanas.
O desânimo pode ser substituído pela irritação em certos pacientes, inclusive manifestado por desobediência e “birra”. Adicionalmente, psiquiatras e psicólogos devem considerar a união de quatro ou mais itens da lista que inclui:
- queda ou aumento do apetite, acompanhado de perda ou ganho de peso não intencional. Em crianças, considera-se também a dificuldade em alcançar a massa esperada para a idade;
- insônia ou sonolência;
- agitação corporal, percebida pelas pessoas em torno no convívio diário;
- sensação de cansaço ou falta de energia;
- sentimento de culpa ou inutilidade;
- danos à capacidade de concentração;
- ideação suicida (com ou sem plano específico).
Normalmente, os sintomas notados causam ruptura em mais de uma esfera (na escola e na interação com os demais, por exemplo). Outro detalhe pertinente é que as preocupações que preenchem os pensamentos negativos estão associadas ao universo infantil.

Características adicionais de episódios depressivos nessa idade
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ressalta que a criança nem sempre consegue expressar o que está sentindo, o que dificulta a confirmação a suspeita. Por isso, devem ser consideradas queixas como:
- somatizações, principalmente com dores em várias partes do corpo;
- roer unhas, lápis e canetas;
- mutismo seletivo que começa repentinamente;
- distúrbios do sono (pesadelos frequentes ou terror noturno);
- enurese noturna (xixi na cama);
- prejuízo no rendimento escolar, inclusive com recusa de comparecer às aulas;
- comportamento opositor (que desafia os responsáveis).
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Outras possibilidades de alterações de humor em crianças
Embora a depressão receba mais destaque, a avaliação individual pode levar a diagnósticos diferentes. Mais raros, quadros de distimia (depressão crônica, porém mais leve, caracterizada pela irritabilidade, mau-humor, baixa autoestima, etc.) e do chamado transtorno disruptivo de desregulação do humor são considerados eventualmente.
Os traços principais da distimia são sintomas que duram por mais de um ano, com intensidade menor do que uma manifestação depressiva convencional.
O transtorno disruptivo de desregulação do humor combina elementos depressivos com episódios de irritação e comportamento muito fora do costumeiro, no intervalo que vai dos seis aos dez anos. Na infância, pode se manifestar junto de outros distúrbios de natureza psicológica, como o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) ou o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Os fatores que influenciam no desenvolvimento da depressão infantil
Essa disfunção na infância é resultado de uma interação complexa. Entram nessa equação itens como:
- componentes genéticos e hereditários, em que filhos de pais com histórico têm um risco três a quatro vezes maior de desenvolver a mesma condição;
- exposição a eventos estressantes, incluindo diferentes tipos de perda e de luto, violência física e psíquica (como o bullying) ou conflitos familiares;
- determinados traços de personalidade, como à ruminação excessiva dos pensamentos ou vieses de memória e de atenção, que evidenciam situações negativas.
Hábitos disseminados com o avanço da tecnologia também estão influenciando o bem-estar das crianças.
Um exemplo disso é o contato frequente com as telas dos dispositivos eletrônicos. Existem indicativos de que o excesso de tempo na frente desses aparelhos influencia no surgimento de sintomas depressivos e ansiosos.
Um estudo publicado na Revista Paulista de Pediatria mostrou que indivíduos entre 12 e 15 anos que passavam de quatro a seis horas por dia em smartphones e tablets apresentavam mais relatos de humor deprimido, ansiedade e estresse do que o grupo que usava os equipamentos por menos de duas horas diárias.
Como funcionam o diagnóstico e o tratamento para a depressão nessa fase da vida

Ainda que o pediatra forneça as primeiras orientações, a avaliação detalhada é feita pelo psiquiatra e/ou psicólogo. É recomendado que esses especialistas tenham qualificação específica para atender crianças.
Não existe exame para o diagnóstico da depressão infantil. O profissional responsável pode solicitar avaliações para entender se há outras causas capazes de fornecer uma explicação para o que está acontecendo.
Uma série de questionários é aplicada para analisar se as ações e as emoções da criança são compatíveis com um quadro depressivo. Todas as informações obtidas com pais, professores e cuidadores são especialmente úteis com os mais jovens.
Parte do tratamento envolve mudanças na rotina e a conscientização de todos ao redor sobre a melhor maneira de lidar com a situação.
As medidas não farmacológicas mais utilizadas incluem sessões de psicoterapia (em muitos cenários, estendida aos círculos de convívio mais próximos).
Em conjunto, é fundamental incluir no dia a dia a prática regular de atividade física e a manutenção de um sono satisfatório, tendo em mente que crianças precisam de um maior repouso noturno.
O incentivo a atividades ao ar livre, brincadeiras características da idade, técnicas de relaxamento e a redução no tempo de tela são outros hábitos que contribuem na recuperação.
Uso de medicamentos específicos
Casos moderados ou graves geralmente respondem melhor aos antidepressivos (na maioria das vezes, em combinação com suporte psicoterápico).
A substância, a dose, o período de utilização e eventuais ajustes nesses tópicos são supervisionados pelo psiquiatra responsável pela prescrição. Podem ocorrer efeitos colaterais que precisam ser observados, como mudanças comportamentais, alterações no sono ou agitação motora.
A utilização dos medicamentos é mantida por alguns meses após o desaparecimento dos sintomas. Essa manutenção é indispensável para evitar recaídas.
As perspectivas para o futuro depois desse diagnóstico
Ainda que os tratamentos disponíveis tenham efetividade considerável no controle da depressão infantil, esse público tem um risco de ter consequências mesmo na vida adulta.
Entre os reflexos identificáveis no longo prazo estão a maior incidência de outros transtornos psiquiátricos, queda no desempenho acadêmico e profissional e prejuízos em vários aspectos da sociabilidade.
Dessa forma, atuar em prol da prevenção da depressão infantil deve ser uma prioridade. Medidas nesse sentido envolvem estratégias para tornar os ambientes familiar e escolar mais acolhedores e a orientação apropriada de pais e cuidadores para que cada criança explore todas as suas potencialidades.

Fontes:
- Frontiers in Psychiatry;
- JAMA Pediatrics;
- Jornal de Pediatria;
- Journal of Affective Disorders;
- Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry;
- National Library of Medicine;
- Organização Mundial de Saúde;
- Organização Mundial de Saúde;
- Revista de Saúde Pública;
- Revista Paulista de Pediatria;
- Sociedade Brasileira de Pediatria;
- The Lancet.
[…] depressão (cuja tristeza se destaca normalmente, mas que tem na irritabilidade um eventual componente); […]