A gestação é um momento impactante e gera efeito em todas as esferas. Embora seja visto como um período de felicidade, é preciso estar atento aos cuidados para que complicações não se desenvolvam e ofereçam risco à saúde da grávida e do feto. Um desses pontos de atenção diz respeito às chamadas síndromes hipertensivas.
Segundo artigo da Revista de APS (Atenção Primária à Saúde), publicação da Universidade Federal de Juiz de Fora, as causas de hipertensão na gravidez ainda não são muito bem esclarecidas pela ciência.
Fisicamente, sabe-se que a gravidez provoca uma série de alterações no organismo da gestante para suprir as necessidades do feto, incluindo metabólicas e vasculares. Essas mudanças podem interferir na elasticidade dos vasos sanguíneos, o que, em alguns casos, resulta no aumento da pressão arterial (PA).
Além disso, alimentação inadequada e com excesso de sal, sedentarismo, sobrepeso e/ou obesidade, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, histórico de pressão alta gestacional na família e má formação da placenta são algumas das causas da condição.
Podendo se apresentar de diferentes formas, a hipertensão exige cuidados específicos em grávidas. O conteúdo a seguir busca explicar como a complicação ocorre, suas particularidades e a importância do pré-natal para a saúde da gestante e do bebê.
Pré-eclâmpsia é o tipo mais comum de pressão alta na gravidez
Atualmente, a comunidade científica trabalha com quatro categorias de distúrbios hipertensivos na gestação. Entre elas, a chamada pré-eclâmpsia é apontada como a mais comum, tanto pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), quanto pelas Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial.
A condição é caracterizada pela pressão arterial acima de 140/90 mmHg após a 20ª semana de gestação em mulheres que não apresentam histórico prévio de hipertensão.
O Ministério da Saúde elenca os seguintes sintomas da condição:
- náusea ou vômito após os primeiros três meses de gestação;
- perda ou alterações da visão (borramento e luzes piscando);
- dor de cabeça intensa e que não diminui com medicação;
- aumento acelerado do peso (1 kg ou mais por semana);
- dificuldade para respirar ou respiração ofegante;
- dor no lado direito do abdômen (próximo ao estômago);
- inchaço no rosto e nas mãos.
Além disso, pode haver a eliminação de proteínas na urina (proteinúria) e a manifestação de outras disfunções, como insuficiência renal, comprometimento do fígado, complicações neurológicas ou no sangue, disfunção uteroplacentária ou comprometimento do crescimento fetal.
Por que a condição coloca em risco a saúde da gestante e do bebê?
Se não tratada corretamente, existe ainda o risco de evoluir para quadros considerados graves, como:
- síndrome de HELLP: na qual ocorre a destruição das células do sangue, elevação das enzimas do fígado e baixa contagem de plaquetas (responsáveis por atuar na coagulação e cicatrização);
- eclâmpsia: quando o feto passa a liberar proteínas na circulação materna que provocam sangramento vaginal e convulsões ao longo da gestação ou mesmo durante o parto.
Soma-se ainda o fato da pré-eclâmpsia ser uma das principais causas do nascimento prematuro do feto e de óbitos maternos.
Por isso, o acompanhamento constante com um profissional de obstetrícia é essencial para avaliar cada caso, recomendar a melhor conduta e garantir um monitoramento adequado da saúde da gestante.
Outros tipos de síndrome hipertensiva
Conforme apontam a Febrasgo e as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, as demais classificações de pressão alta na gravidez, além da pré-eclâmpsia, são:
- hipertensão crônica: quando a paciente já tem histórico de PA elevada prévio à gravidez ou a manifestação acontece antes da 20ª semana de gestação e persiste após o parto;
- hipertensão gestacional: ocorre após a 20ª semana, mas a paciente não libera proteínas na urina e nem apresenta outras disfunções relacionadas. Entre 6 e 12 semanas pós-parto, a condição desaparece;
- hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta: a paciente com hipertensão crônica passa a desenvolver sintomas pré-eclâmpáticos.
Pré-natal é essencial para identificar e prevenir complicações
Uma gravidez segura, com a saúde da mãe e do bebê protegidas, depende de um acompanhamento médico constante e da realização dos exames de pré-natal.
Durante as consultas, a pressão arterial da gestante deve ser monitorada de perto, já que um aumento inesperado pode indicar a presença da síndrome hipertensiva.
Com o diagnóstico precoce, é possível o tratamento (envolvendo uso de medicamentos e alterações no estilo de vida) e as intervenções necessárias para que todo o período seja tranquilo e saudável.
Com o Cartão dr.consulta, é possível agendar atendimentos e exames com especialistas da área para o cuidado contínuo da saúde da gestante, incluindo o monitoramento da PA.
Grávidas ainda recebem informações importantes por meio do programa Cuidando da Minha Gestação, no qual é feito o acompanhamento da paciente por um time multiprofissional em canais de dúvidas/orientações e consultas de enfermagem trimestrais (ou de acordo com o risco da gestação).
Além do auxílio de profissionais de saúde, é essencial que a gestante também adote alguns hábitos considerados saudáveis, como:
- alimentação balanceada, reduzindo o consumo de sal e evitando itens ultraprocessados;
- prática de atividades físicas, conforme orientação sobre os tipos de exercícios e tempo de duração para cada período gestacional;
- controle do ganho de peso (para que não seja além do ideal na gravidez);
- repouso e redução do estresse.
Com um pré-natal bem conduzido e os cuidados necessários, é possível aproveitar esse período com mais segurança – garantindo bem-estar e a saúde da gestante e do bebê.
Fontes:
- Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial;
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Pré-eclâmpsia;
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Síndromes Hipertensivas da Gravidez;
- Ministério da Saúde;
- Revista de APS – Universidade Federal de Juiz de Fora.