Diabetes gestacional e a importância da atenção total

A gravidez é um período sensível para a mulher, que passa por uma série de mudanças em paralelo à evolução do feto. Nesse processo, alguns fatores exigem supervisão próxima para prevenir complicações. E o diabetes gestacional é um exemplo bem claro disso.
A falta de controle adequado dessa disfunção pode gerar riscos no curso dos nove meses e no parto, bem como no futuro. Entre outros contratempos, por conta do desequilíbrio, mãe e bebê têm mais probabilidade de ter diabetes “convencional”.
O que caracteriza o diabetes em gestantes
O organismo de alguém com a condição perde a capacidade de produzir insulina o bastante ou se torna incapaz de aproveitar adequadamente esse hormônio.
Isso significa que as células não “queimam” o açúcar e os carboidratos provenientes da alimentação com a velocidade necessária para obter energia. Assim, a concentração do elemento aumenta, gerando uma série de consequências negativas, sobretudo no longo prazo.
Os tipos mais comuns são o de diabetes tipo 1 (cerca de 10% dos episódios) e diabetes tipo 2 (até 90% dos casos, na média).
No caso das pessoas gestantes, o corpo passa por uma série de ajustes para garantir que tudo ocorra conforme o esperado até o nascimento.
Isso envolve a flutuação de uma série de hormônios, com influência inclusive sobre a insulina. O principal ator nessa equação é a placenta: sua presença faz com que certas substâncias dificultem a ação insulínica.
A partir disso, é necessário que o pâncreas trabalhe mais para liberar mais insulina e equilibrar a situação, evitando a disparada da glicemia. Porém, isso nem sempre se desenrola satisfatoriamente, dando origem ao chamado diabetes gestacional.
O distúrbio é identificado normalmente entre as semanas 24 e 28 da gravidez. De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2% e 4% de quem espera um filho tem o quadro.
Os principais fatores de risco
Qualquer mulher nessa fase tem chance de apresentar dificuldade em lidar com a concentração de glicose no organismo. Mas certos aspectos são capazes de incrementar a probabilidade de que isso efetivamente aconteça. A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) destaca a seguinte lista de possíveis razões:
- idade avançada na gestação;
- sobrepeso e obesidade;
- diabetes em parentes de primeiro grau;
- condições associadas à resistência à insulina (colesterol e pressão alta e síndrome de ovários policísticos);
- ganho excessivo de peso durante a gravidez;
- feto que cresce rápido demais ou partos anteriores com bebês com mais de 4 kg;
- excesso de líquido amniótico na bolsa;
- pré-eclâmpsia;
- abortos espontâneos repetidos;
- episódios passados de diabetes gestacional;
- hemoglobina glicada (que calcula uma média da concentração de açúcar na corrente sanguínea) acima de 5,7% quando medida no trimestre inicial depois da concepção.
Na dúvida sobre o que muda essa chance, a mulher deve consultar o obstetra responsável pelo pré-natal. É esse profissional que considera as particularidades do caso e fornece a orientação personalizada.
Evolução
Quem conhece alguém com excesso de glicose no sangue ou vive com essa situação de forma crônica sabe que ela tem uma característica bem perigosa: a ausência de sintomas nítidos, a menos que já esteja em um estado bem avançado.
Isso se repete no diabetes gestacional, fazendo com que ele siga um curso bastante silencioso. Nas situações em que desconfortos se fazem presentes, eles normalmente são sutis e incluem:
- sede excessiva;
- idas repetidas ao banheiro para urinar, além do normal;
- sensação de cansaço persistente;
- aumento do apetite;
- ganho acelerado de peso.
Perante a gravidade, não é bom esperar por nada disso para só então desconfiar do distúrbio metabólico. Por isso, todo pré-natal prevê o espaço para os testes para afastar ou confirmar tal diagnóstico.
Nesse sentido, o Cartão dr.consulta pode oferecer mais agilidade, pois amplia o acesso aos cuidados essenciais para quem vive com diabetes ou está em período gestacional. Os descontos em exames laboratoriais certamente também ajudam a tornar o monitoramento regular mais acessível.
Já por meio de programas como Cuidado da Minha Gestação e Viva Bem, esse público recebe orientações personalizadas de uma equipe multidisciplinar, garantindo um acompanhamento contínuo e integral da saúde:
Recomendações de assistência
Junto de todas as medidas necessárias para um pré-natal tranquilo, o rastreamento do diabetes gestacional (ou seja, a realização dos exames indicados mesmo sem sintomas) deve ser baseado nas seguintes recomendações, também da SBD:
- mulheres sem identificação prévia de diabetes recebem a recomendação de uma avaliação de glicemia em jejum na primeira consulta;
- adicionalmente, um teste de hemoglobina glicada (HbA1c) pode ser pedido em conjunto para mapear esse risco;
- a suspeita da condição se faz presente com resultados de glicemia em jejum acima de 92 e até 125 mg/dL em qualquer ponto da gravidez;
- no transcorrer dos meses (até o intervalo das semanas 24 e 28), toda grávida deve realizar idealmente exames de teste oral de tolerância à glicose (uma e duas horas após a ingestão de uma dose da substância).
O diagnóstico nesse estágio fica constatado diante da identificação de pelo menos um dos seguintes valores:
- glicemia em jejum entre 92 e 125 mg/dL;
- curva glicêmica em uma hora superior a 180 mg/dL e em duas horas igual ou maior a 153 e menor que 200 mg/dL.
Cabe ressaltar que se a taxa de açúcar no sangue no teste oral de tolerância com 75 g da substância ultrapassar 200 mg/dL, é preciso ser levado em conta o diabetes preexistente que foi diagnosticado na gravidez e não o gestacional.
Por fim, mulheres diagnosticadas com diabetes antes de engravidar podem receber recomendações específicas de manejo. Pode ser sugerido que não tentem a concepção se a hemoglobina glicada estiver passando de 9%, por exemplo.
Recomendações gerais para o controle ao longo da gravidez
A partir da confirmação de que a evolução do bebê está atrelada ao desenvolvimento do diabetes gestacional, adaptações na rotina são relevantes.
Alimentação adequada

Uma dieta equilibrada é indispensável para não deixar que os níveis de glicose disparem. Portanto, a gestante deve:
- fazer refeições em horários regulares, de preferência com porções menores;
- controlar o consumo de açúcares e de carboidratos;
- preferir refeições que proporcionem menores picos glicêmicos (como cereais integrais);
- aumentar as fibras na dieta, que ajudam a atrasar a absorção do açúcar.
Nesse cenário, o suporte de um profissional de Nutrição capacitado pode ser de grande valia.
Atividade física

Dentro do viável e sempre com autorização médica, a prática de exercícios leves ajuda a regular a queima do açúcar e facilitar o trabalho do controle da glicose. Além disso, movimentar o corpo também:
- melhora o condicionamento físico;
- auxilia na manutenção do peso;
- reduz o estresse;
- prepara para o parto.
Monitoramento

O acompanhamento regular dos níveis de açúcar é outra iniciativa que pode ser parte do dia a dia. Isso costuma ser feito pela chamada glicemia capilar, cuja coleta de sangue exige um furinho na ponta do dedo (feita em casa, desde que haja o equipamento adequado). Assim sendo, é possível:
- manter registro dos valores obtidos;
- identificar alimentos que causam picos de glicose.
Medicamentos

Quando tudo isso não for suficiente, a prescrição da insulina subcutânea (ou seja, aplicada através de injeções sobre a pele) costuma ser a indicação. Como alternativas, remédios orais estão disponíveis.
Todas as restrições de fármacos (incluindo efeitos colaterais) durante esse período devem ser devidamente consideradas, mas sem jamais ignorar a ameaça do descontrole do diabetes gestacional.
Alguns dos perigos envolvidos no diabetes gestacional
O excesso de glicose no organismo da figura materna não fica restrito a ela e em algum estágio esse adicional indesejado atinge o bebê.
Para compensar isso, o pâncreas do feto trabalha com mais força e eleva a disponibilidade de insulina. O hormônio acelera o crescimento da criança, que tem mais chances de ultrapassar o peso ideal e dificultar o parto, entre outras consequências durante gestação e depois que ela termina.
Para a mãe
A mulher com tal quadro convive com um maior risco de candidíase vaginal, infecção urinária, hipertensão na gravidez, necessidade de cesárea e todas as demais complicações do diabetes.
É provável que o processamento do açúcar no corpo retorne ao normal após o parto. No entanto, a assistência em saúde precisa continuar (com o auxílio de um endocrinologista, inclusive). Estima-se que uma pessoa com diabetes gestacional tenha até 10 vezes mais chance de ter diabetes tipo II.
Para o feto
O bebê em desenvolvimento na barriga da pessoa que gesta com a glicemia descompensada acaba tendo maiores chances de desenvolver:
- crescimento e aumento de peso exagerado;
- lesões durante o parto
- malformações, óbito intrauterino e interrupções da gravidez;
- prematuridade;
- dificuldades para respirar;
- hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) neonatal;
- hipocalcemia (cálcio abaixo do ideal);
- hiperbilirrubinemia (acúmulo de uma substância que deixa a pele amarela).
No futuro, o diabetes gestacional fará com que essa criança (e posteriormente adulto) também tenha uma possibilidade maior de ter o tipo II da enfermidade, assim como obesidade, síndrome metabólica e pressão alta.
Fontes:
- Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia;
- Expert Review of Endocrinology & Metabolism;
- Ministério da Saúde;
- Revista da Associação Médica Brasileira;
- Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD);
- Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD);
- Sociedade Brasileira de Diabete (SBD);
- The British Medical Journal.
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