Entenda o que é gastrite de uma vez por todas

Para entender o que é gastrite, é preciso, antes de tudo, saber que ela não corresponde a toda e qualquer dor de estômago que dê as caras no dia a dia (como aquela após refeições mais pesadas, por exemplo).

Ainda que seja verdade que a condição esteja frequentemente associada a sintomas como azia e queimação, ela vai além disso, tornando-se um foco importante de atenção do gastroenterologista, o especialista em quadros que afetam a digestão.

O que é a gastrite e como ela afeta o estômago

Uma das principais características do órgão que recebe alimentos ingeridos pela boca é ser revestido internamente com uma camada especial de tecido gástrico — que, por sua vez, tem papel essencial no processo de ação de enzimas (substância que decompõe a comida em partes menores) e, acima de tudo, do ácido clorídrico.

Também conhecido como suco gástrico, ele garante ao interior do órgão a acidez necessária para que o processo digestivo siga conforme esperado.

Em contrapartida, as diferentes camadas da mucosa estomacal protegem a parede interna por meio da produção de um muco alcalino que neutraliza parte do poder corrosivo do suco gástrico. Desse modo, a integridade dessa estrutura é essencial à saúde gastrointestinal.

No entanto, quando todo esse processo não se dá de maneira apropriada, a mucosa desenvolve uma inflamação (por isso o nome termina com “ite”). Em certas circunstâncias, quando não tratada, ela pode levar à erosão (ou seja, à destruição) da cobertura interna.

Por conta dessa diferença, as ocorrências são classificadas em dois grupos: os erosivos e os não erosivos. Eles se diferenciam, justamente, pela presença de feridas e de lesões na camada que deveria proteger a região.

Os principais sintomas de uma gastrite

Em casos específicos ou ainda em estágios iniciais, o indivíduo afetado pode não sentir nada. Enquanto isso, outros são afetados apenas por parte dos incômodos, com intensidade variada. De todo modo, segundo a Federação Brasileira de Gastroenterologia, os desconfortos que mais chamam a atenção incluem:

• dor na região superior do abdômen (a boca do estômago), que não raro se irradia em direção ao peito;
• soluços e arrotos;
• náuseas;
• vômitos;
• perda de apetite;
• sensação de estufamento após a alimentação, que muitas vezes faz com que a saciedade seja sentida bem rápido;
• queimação.

Nas circunstâncias em que a agressão causa sangramento devido à erosão da mucosa, as fezes se tornam escuras ou há traços de sangue no material eliminado através dos vômitos. 

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As causas mais frequentes para essa condição digestiva

Para a maioria dos episódios, em especial aqueles de natureza não erosiva, o principal responsável é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori (ou só H. pylori), segundo o National Institute of Health, agência norte-americana de saúde. Ela é transmitida de pessoa para pessoa, além de água e alimentos contaminados, sendo um dos poucos seres vivos capazes de sobreviver no ambiente extremamente ácido do órgão.

Boa parte dos indivíduos vai convivendo com o microrganismo sem qualquer consequência. Contudo, em determinadas circunstâncias, ele se prolifera, desencadeando a inflamação.

Adicionalmente, os casos erosivos agudos ou crônicos têm como principais agentes o uso prolongado de alguns anti-inflamatórios e o abuso de álcool, tabaco e drogas, conforme artigo publicado nos Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva. Há ainda os cenários em que surgem lesões súbitas, especialmente quando há hemorragia significativa.

No mais, uma motivação rara se dá quando o próprio organismo produz anticorpos que atacam a mucosa, constituindo uma forma autoimune. Dessa maneira, há uma redução da secreção ácida com diminuição na absorção de ferro e de vitamina B12.

Algumas recomendações de prevenção

Em geral, a sugestão mais divulgada para diminuir a chance dessa alteração é evitar o uso de substâncias que causam irritação, como bebidas alcoólicas em excesso, cigarros, drogas e medicamentos sem indicação médica.

Já a bactéria H. pylori deve ser evitada com a adoção, ou reforço, de hábitos básicos de higiene, como lavar as mãos frequentemente e evitar colocá-las na boca, consumir apenas alimentos de boa procedência e devidamente higienizados.

Em todo caso, o gastroenterologista deve ser procurado diante de desconfortos digestivos persistentes (por mais de duas semanas, por exemplo) ou de forte intensidade.

Como diferenciar cada tipo de gastrite

A classificação de cada categoria desse quadro é baseada na duração dos sintomas, em sua causa e em qual região se concentra a inflamação ou infecção. Logo, a lista inclui:

1. gastrite aguda;
2. gastrite crônica;
3. gastrite enantematosa;
4. gastrite eosinofílica;
5. gastrite nervosa.

1. Gastrite aguda

Como o nome sugere, aparece de uma hora para outra, incluindo dor no órgão, náuseas e vômitos.

A adoção de hábitos alimentares saudáveis auxilia no controle da alteração junto com os medicamentos adequados para amenizar os episódios.

2. Gastrite crônica

À medida que o tempo passa, a inflamação tende a aumentar e comprometer uma porção cada vez maior do revestimento.

Com o tempo, isso faz dela uma condição crônica. Ela pode ser classificada por sua fase de evolução (superficial, moderada e final) ou pela região afetada (nas extremidades ou no corpo do órgão).

3. Gastrite enantematosa

Ainda que os sintomas sejam semelhantes aos das outras variações, aqui a ação inflamatória atinge uma camada profunda do revestimento.

Ela tem como causas as bactérias, o uso excessivo de medicamentos ou pode estar associada ao alcoolismo, bem como a doenças autoimunes. O tratamento envolve uma dieta com restrição de gorduras, de cafeína e de açúcar.

4. Gastrite eosinofílica

O aumento de células imunes no órgão, comum em pessoas com histórico de alergias, também provoca os incômodos característicos, em especial azia, náuseas e vômitos frequentes. O tratamento, normalmente, é feito com o uso de corticoides.

5. Gastrite nervosa

Muitas vezes, a azia, a sensação de estufamento e os vômitos surgem em situações de estresse e de ansiedade.

Nesse caso, o controle adequado depende não só de antiácidos, mas também da adoção de medidas para o gerenciamento do estresse, como prática de atividades físicas, técnicas de relaxamento ou mesmo suporte de um psicólogo ou psiquiatra.

Os recursos necessários para o diagnóstico correto

Ainda que o termo seja utilizado muitas vezes no cotidiano para caracterizar uma dor de estômago, a rigor ele só deve ser usado após a realização de todos os procedimentos necessários para confirmar a alteração.

A endoscopia digestiva alta é frequentemente a ferramenta mais pertinente. Nessa intervenção, um instrumento é conduzido pela boca e pelo esôfago com o indivíduo devidamente anestesiado para captar imagens da área em que há suspeita de inflamação.

Se for considerado relevante, o médico solicita uma biópsia. Para isso, é removido um pequeno fragmento do interior dessa parte do organismo. Na sequência, o material é enviado para um laboratório, onde é analisado para entender melhor o que está acontecendo.

Como complemento, são requisitados outros exames, que incluem testes para identificar a presença da H. pylori ou mesmo para novas inspeções visuais do trato digestivo, com o auxílio de radiografias, ressonâncias e tomografias.

As opções de tratamento mais utilizadas

Os medicamentos receitados visam reduzir a acidez e melhorar os sintomas de queimação e sensação de estômago cheio ou “empachado”. Na maioria dos casos, a melhora obtida é significativa.

Em paralelo, tipos específicos exigem terapias com remédios apropriados. É o que acontece se houver a proliferação de H. pylori, que faz dos antibióticos algo necessário. Em conjunto, o especialista pode indicar:

• a interrupção do consumo de álcool, cigarros e determinados anti-inflamatórios;
• o consumo de frutas menos ácidas e não abusar do café e dos refrigerantes (que não causam a inflamação, mas acentuam o incômodo depois que ela aparece);
• planejar refeições leves, em porções pequenas distribuídas ao longo do dia, ao invés de grandes quantidades de alimento de uma única vez;
• comer sempre devagar, mastigando bem cada comida a cada mordida.

Nessas horas, o suporte de um nutricionista faz a diferença para adaptar a alimentação e otimizar os resultados alcançados com as prescrições médicas.

Junto da garantia de uma boa qualidade de vida, o diagnóstico ágil ajuda a evitar algumas consequências indesejadas. Quadros crônicos estão associados ao surgimento de úlcera péptica, pólipos ou mesmo tumores benignos e malignos.

Algumas pessoas com queixas por conta da H. pylori ou a versão autoimune desenvolvem a versão atrófica. Ela destrói células específicas do revestimento e está vinculada à parte dos casos de câncer no órgão, que todos os anos atinge cerca de 20 mil brasileiros, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer.

Fontes:

• Arquivos Brasileiros de Cirurgia Gástrica;
• Arquivos em Gastroenterologia;
• Brazilian Journal of Health Review;
• Biblioteca Virtual em Saúde;
• Federação Brasileira de Gastroenterologia;
• National Library of Medicine.