Entenda as causas e as consequências da obesidade

Resumidamente, a obesidade surge quando a ingestão alimentar habitual supera o gasto energético diário. 

Sendo assim, um dos fatores mais relevantes nesse processo é uma alimentação desbalanceada aliada a uma rotina pobre em atividades físicas.

Uma vez instalado, o excesso de peso aumenta a predisposição para quadros como diabetes, colesterol alto, pressão alta, derrame, depressão, limitações osteoarticulares, distúrbios do sono, entre outros.

O que define a obesidade

Estima-se que cerca de 20% dos adultos brasileiros sejam obesos, de acordo com os dados reunidos pelo Mapa da Obesidade elaborado pela Abeso, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica.

E a elevação tem sido crescente, conforme apresentado no Congresso Internacional sobre Obesidade de 2024. No estudo, pesquisadores brasileiros concluíram que essa porcentagem dobrou entre 2006 e 2019. Até 2030, a expectativa é de que o índice atinja 30% da população.

O principal parâmetro utilizado para identificar o quadro é o Índice de Massa Corporal (IMC). O cálculo é feito dividindo peso (em quilogramas) pela altura (em metros) elevada ao quadrado.

Conforme estabelece a Organização Mundial da Saúde, a obesidade fica caracterizada quando o IMC atinge valores iguais ou superiores a 30. Esse quadro é classificado em diferentes graus:

• obesidade grau I: IMC entre 30 e 34,9;
• obesidade grau II: IMC entre 35 e 39,9;
• obesidade grau III (mórbida): IMC igual ou superior a 40.

Além do IMC, outros indicadores podem complementar a avaliação. No consultório, é possível coletar medidas da circunferência abdominal e realizar a análise da composição corporal com exames específicos, como a bioimpedância.

A categorização da obesidade em crianças

Em fases anteriores à vida adulta, a avaliação de acúmulo de peso corporal acima do ideal segue critérios específicos adaptados às fases de desenvolvimento.

Nessa população, utiliza-se a progressão baseada nas curvas de crescimento para idade e sexo. A lógica por trás disso é simples: toda criança e adolescente ganha massa à medida que cresce.

No entanto, se a velocidade está além do esperado para cada idade, é possível que a criança ou adolescente esteja atingindo um estágio de sobrepeso ou obesidade.

O Ministério da Saúde reforça que o médico responsável pelo acompanhamento habitual pode coletar essas informações e compará-las com as curvas de evolução esperadas.

Os mecanismos por trás do acúmulo de peso

A obesidade é uma alteração de natureza multifatorial. De qualquer maneira, é possível delimitar alguns aspectos que levam a esse resultado. Os principais deles são:

• manutenção de um desequilíbrio energético, no qual há uma ingestão calórica frequentemente superior ao gasto, fazendo com que o excesso seja armazenado como gordura;
• comportamento sedentário, com baixo nível de movimentação corporal;
• elementos genéticos e hereditários, uma vez que filhos de pais obesos têm risco aumentado de desenvolver a mesma condição;
• desarranjos hormonais, pois alterações no funcionamento da tireoide, resistência à insulina, desequilíbrios no cortisol e modificações nos hormônios que controlam fome e saciedade favorecem o ganho de peso;
• aspectos psicológicos, que levam a alterações no padrão de comportamento alimentar;
• fatores socioeconômicos, considerando que, na média, pessoas com menor renda frequentemente têm acesso limitado a alimentos nutritivos (ingerindo mais ultraprocessados, inclusive) e rotinas adequadas à prática de atividade física.

Nenhum desses itens é uma sentença definitiva para a obesidade. No entanto, identificá-los precocemente ajuda a promover ajustes de modo precoce, evitando a progressão da disfunção.

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Os prejuízos mais notáveis da obesidade sobre a saúde

Com o passar do tempo, o excesso de gordura corporal faz com que vários sistemas do organismo deixem de funcionar adequadamente. Isso explica a abrangência dos impactos sobre o bem-estar, que podem ser sentidos em diferentes dimensões.

Desequilíbrios metabólicos

A obesidade interfere profundamente no metabolismo. Em um primeiro momento, ela promove resistência à ação da insulina, elevando significativamente o risco de diabetes tipo 2.

Em paralelo, alterações no perfil lipídico são comuns, com elevação do colesterol ruim (LDL) e dos triglicérides.

Esse fator é responsável pelo desenvolvimento de dislipidemias, da esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado) e da aterosclerose (que faz com que artérias do coração tenham a passagem de sangue prejudicada).

Impactos cardiovasculares

Coração e artérias têm sobrecarga considerável na obesidade. O órgão precisa trabalhar mais intensamente para bombear sangue por todo o organismo, levando ao aumento da pressão arterial.

A situação eleva drasticamente o risco de quadros cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca.

Deficiências respiratórias

O excesso de peso dificulta constantemente a expansão adequada dos pulmões, causando falta de ar mesmo durante a realização de atividades simples.

Neste contexto, quadros como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica podem piorar, reduzindo ainda mais a qualidade de vida.

A apneia do sono é outro incômodo particularmente comum, que se manifesta durante o descanso. Ela provoca interrupções repetidas da respiração durante o sono, comprometendo a qualidade do repouso noturno. 

Complicações osteoarticulares

O peso excessivo força articulações, especialmente joelhos, quadris, tornozelos e coluna vertebral. A sobrecarga acelera o desgaste das cartilagens, favorecendo o desenvolvimento de osteoartrite e dores articulares crônicas.

A limitação da mobilidade cria um ciclo prejudicial, no qual a dor leva à redução da atividade física, contribuindo para maior ganho de peso.

Riscos oncológicos

A obesidade está associada ao aumento do risco de diversos tipos de câncer, incluindo tumores de mama, intestino (cólon e reto), endométrio, rim, fígado e pâncreas.

Isso se deve a indicadores como alterações hormonais, inflamação crônica e modificações no sistema imunológico.

Além de aumentar o risco de novos casos, o peso adicional também influencia na evolução dos tumores. Um estudo publicado em 2024 no periódico Scientific Reports mostrou que sobrepeso e obesidade estão entre os principais fatores comportamentais associados a piores desfechos dos diagnósticos de câncer colorretal entre brasileiros.

Impactos psicológicos

Não se deve subestimar as repercussões sobre a saúde mental decorrentes da obesidade. Questões relacionadas à autoestima e autoimagem podem levar à depressão, à ansiedade e ao isolamento social.

A conexão também persiste no sentido oposto em muitas circunstâncias. Transtornos mentais frequentemente favorecem o acúmulo de peso.

Possíveis intervenções para reverter o cenário

As estratégias necessárias para combater a obesidade quase sempre funcionam melhor quando combinadas. Deste modo, é possível unir diversas ações para alcançar tal objetivo:

• modificações alimentares, com adoção de um padrão nutricional equilibrado adequado às necessidades individuais. A orientação de um nutricionista é fundamental para a implementação de um plano personalizado, considerando preferências, restrições e objetivos de cada um;
• atividade física regular, essencial tanto para a perda de peso quanto para a manutenção dos resultados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que a mescla de exercícios aeróbicos com treinamento de resistência oferece benefícios adicionais, melhorando a capacidade cardiovascular e a força muscular;
• suporte psicológico, especialmente quando existem questões emocionais relacionadas ao peso. Psicólogos e psiquiatras auxiliam na elaboração de estratégias para lidar com aspectos comportamentais e emocionais.

Em casos mais graves (normalmente tomando como ponto de referência um IMC acima de 40) a cirurgia bariátrica é uma alternativa. Ela altera a forma do estômago, diminuindo seu tamanho e, por consequência, sua capacidade de receber alimentos.

Essa possibilidade deve ser avaliada por um gastroenterologista e um cirurgião do aparelho digestivo.

Opções farmacológicas

Mais recentemente, novos medicamentos foram introduzidos no mercado. Fármacos como Ozempic (nome comercial da semaglutida) e Mounjaro (cujo princípio ativo é a tirzepatida) vêm sendo bastante procurados, às vezes até indevidamente.

Em resumo, eles agem simulando a ação de hormônios envolvidos na sensação de saciedade e na distribuição da insulina pelo organismo. Com isso, é esperado que a sensação de fome diminua, levando ao menor consumo calórico e consequente perda de peso.

O emprego dessas soluções esbarra no risco de efeitos colaterais específicos, na contraindicação em circunstâncias particulares e no custo elevado, em especial quando se considera a necessidade de um tratamento de longo prazo.

Independentemente disso, a prescrição e o acompanhamento do endocrinologista é fundamental para um uso seguro destes recursos.

Isso reforça sempre que obesidade é um quadro sério que demanda atenção médica adequada. Com isso, é possível alcançar melhora significativa na qualidade de vida e reduzir substancialmente os riscos associados.

Fontes:

• Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica;
• Biblioteca Virtual em Saúde;
• Ministério da Saúde;
• Ministério da Saúde;
• Organização Mundial de Saúde;
• Scientific Reports ;
• Sociedade Brasileira de Pediatria.